Matéria no “Diário de Pernambuco”

Matéria desse domingo no Diário de Pernambuco, envolvendo Guerra dos Tronos e seus seguidores fanáticos.
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Enjoy!
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Game of Thrones demanda imersão de fãs em universo fantásticoSeguidores da saga costumam conferir as páginas de George R. R. Martin e as novidades na internet


Estado de Minas

Publicação: 24/03/2013 19:11 Atualização: 25/03/2013 09:09

Raphael Draccon convenceu editora brasileira a apostar em George R. R. Martin. Foto: (Wagner Carvalho/divulgação
Raphael Draccon convenceu editora brasileira a apostar em George R. R. Martin. Foto: (Wagner Carvalho/divulgação

Pesquisador de literatura fantástica e ficção científica, o escritor e compositor paraibano Bráulio Tavares é fã de Game of thrones. Mas só na TV. A despeito de seu interesse pelo gênero, ele decidiu não se aventurar no épico de George R. R. Martin.

“Conheço o autor há muitos anos, desde a época em que escrevia ficção científica. Ele é bem conceituado, traz ideias interessantes, mas tenho muita coisa para ler. Para me dedicar a um livro de 800 páginas, ele deve ser muito importante. As séries atuais estão imensas, com ritmo lento. O pessoal que veio depois do Tolkien, pois o modelo é dele, não diz que está começando a escrever um livro, mas uma trilogia. Escrevem 700, quando poderiam muito bem contar a história em 500 páginas”, afirma.

Mesmo assim, Tavares foi rapidamente fisgado pela adaptação televisiva de Game of thrones – inclusive, está se preparando para rever, esta semana, as duas primeiras temporadas. Comprou os livros, que servem mais como guia quando surgem dúvidas sobre a narrativa. Como pesquisador, ele discorda da hierarquização de gêneros. E manda um recado àqueles que consideram a literatura fantástica gênero menor: “Hoje, há a ditadura do realismo. Não tenho nada contra, alguns dos meus autores prediletos são realistas. Mas por que não pensar nos problemas da nossa sociedade falando de um mundo imaginário?”

INGLÊS

“Hoje, há a ditadura do realismo”, afirma Bráulio Tavares, escritor. Foto:Marcos Michelin/EM/D.A Press – 21/7/04)

Antes de chegar ao Brasil, em 2010, As crônicas de gelo e fogo tinham versão portuguesa, lançada pela editora Saída de Emergência. Muitos fãs, por sinal, foram obrigados a procurar livros editados em outros países, dada a demora da tradução brasileira. A estudante de jornalismo Leonora Laporte, de 23 anos, leu o quinto volume, A dança dos dragões, em inglês.

“Ouvi falar da série por causa dos fóruns de internet que frequento. Mas só comecei a ler quando fiquei sabendo da adaptação da HBO”, afirma ela. Fã de literatura fantástica desde a infância, Leonora descobriu Tolkien aos 9 anos. Ainda que a profusão de personagens criados por Martin seja enorme, a estudante garante que não dá para se perder na história. “Todos são únicos, têm um jeito de pensar próprio”, explica.

O seriado Game of thrones aposta no fascínio do público por tramas ligadas à literatura fantástica
Sem titubear, ela conta que o terceiro volume é o preferido. “Muda tudo na história, é onde há a maior reviravolta. Aqueles que acharam que era muita coisa Ned Stark morrer na primeira temporada vão se surpreender”, avisa. Como a adaptação televisiva exibirá nesta temporada só metade do terceiro volume, pode ser que a tal reviravolta só ocorra em 2014.

De olho no sucesso
Em julho de 2009, o escritor Raphael Draccon iniciou a campanha que demandou mais de um ano: convencer a editora Leya a comprar os direitos da série As crônicas de gelo e fogo. Até então reticente quanto à obra de George R. R. Martin, a editora só se convenceu a reavaliar os livros no ano seguinte (até então, quatro dos sete volumes haviam sido lançados), quando a HBO anunciou que adaptaria a saga para a TV.

O seriado Game of thrones aposta no fascínio do público por tramas ligadas à literatura fantástica. Foto: HBO/divulgação
O seriado Game of thrones aposta no fascínio do público por tramas ligadas à literatura fantástica. Foto: HBO/divulgação

“Também batalhei para que não usassem aqui as capas americanas, mas as francesas. Deu supercerto”, relembra Draccon. Aos 31 anos, o roterista e escritor segue os passos de Martin. Sua própria série, ‘Dragões de éter’, já bateu a casa dos 200 mil exemplares vendidos no país.

Este ano, Draccon entrou para o time de autores do grupo editoral Random House, um dos maiores do mundo, que comprou os direitos em língua espanhola da série. O primeiro volume de Dragões de éter será lançado no México até o início do próximo semestre. De lá chegará à Argentina e, dependendo da repercussão, a outros países de língua espanhola. 

Raphael Draccon integra o corpo editorial da própria Leya e é responsável pelo selo Fantasy – Casa da Palavra, especializado em literatura fantástica. Criado há um ano, esse departamento conta com cinco autores nacionais, como Carolina Munhoz e Fábio M. Barreto.

Draccon diz que é enorme a quantidade de originais que recebe. “Hoje, todo mundo quer ser escritor. Mas é a Fantasy que chega a eles. Para entrar no selo, a pessoa tem que se destacar no mercado. Aquele sujeito recluso, ermitão, não tem mais espaço. Além de apresentar sua obra, o escritor deve participar de eventos, fazer palestras e estar na internet, seja em redes sociais, blogs ou videologs. São autores que não dependem da editora”, conclui.

Frankfurt 2013, ou Como o Mercado Editorial Irá Evoluir ou Morrer

2013.

Bem, o mundo não acabou e esse ano o Brasil é o país homenageado na Feira de Frankfurt, a mais importante do setor de literatura.

Para representar o país na feira, recentemente a Biblioteca Nacional divulgou uma lista com os nomes de 70 autores brasileiros escolhidos para representar o país, através de uma participação que no total contará com um investimento aproximado de R$ 20 milhões.

Você pode ver a lista dos 70 selecionados clicando aqui.

Se por um lado a lista incluiu alguns nomes que nos orgulham ver ali como Pedro Bandeira, Fernando Morais, Patrícia Melo, Lourenço Mutarelli, Paulo Lins, Maurício de Sousa e Ziraldo, por exemplo, por outro, obviamente, as escolhas causaram polêmica, assim como qualquer outra seleção o teria feito igualmente.

Alguns autores se pronunciaram de maneira a criticar suas próprias ausências dentre os selecionados e suas opiniões merecem ser ouvidas. Da minha parte, contudo, gostaria de hoje remar para uma outra margem e aproveitar a seleção divulgada para analisar algo mais a fundo.

Analisar o futuro do mercado editorial brasileiro e o que essa seleção demonstra o que podemos esperar dele.

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Diplomacia x Revolução

Há duas formas de se encarar a Feira de Frankfurt: como um evento diplomático, como se faz atualmente, ou como um exemplo de uma possível revolução editorial brasileira. A escolha pela diplomacia, todavia, é justificável porque toda ação segue um pensamento, e o pensamento do setor brasileiro ainda engatinha perto do potencial da literatura já produzida hoje por aqui.

Esse pensamento conservador é construído sobre alguns pilares que precisamos desmembrar para compreender o que nos faz engatinhar nesse setor, no lugar de um voo livre.

Vemos reportagens comemorando a quantidade de autores mineiros na lista, bem como criticando a falta de mais autores índios, mulatos ou de determinada região. É o tipo de pensamento que parece de progressão, mas no mundo de hoje se aplica como regressão.

Porque no mundo de hoje os valores mudaram e ninguém mais se surpreende se um índio dentro de uma oca criar uma rede social para tribos indígenas reconhecerem seus ancestrais, por exemplo, e de repente ficar famoso e milionário por isso. O mundo conectado simplesmente globalizou o regional e uma ideia ou uma obra brilhante é mais importante do que a região ou de que tipo de pessoa a produziu.

Você vai evoluir ou morrer, xará!

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A frase acima foi atribuída uma vez ao popular mutante Wolverine, do grupo X-Men. Independente do fator X que exista em cada um de nós, a frase poderia ser encaixada perfeitamente nos mercados que lidam com qualquer conteúdo artístico.

A questão é: o mundo mudou, a nova geração é diferente de qualquer outra e qualquer tipo de mercado precisa acompanhar suas mudanças.

O mp3 surgiu e as gravadoras que não evoluíram com ele quebraram. O torrent surgiu e as locadoras que não evoluíram com ele quebraram. O mercado editorial passa hoje por uma etapa parecida, e aqueles que não se adaptarem – e aqui falamos de autores, editoras, agentes e livrarias – irão quebrar igualmente.

Vamos trabalhar por outro raciocínio: quantas pessoas você conhece que sabem da divulgação da lista de autores citada? Independente do interesse delas por literatura, isso deveria ser de seus conhecimentos, afinal, são elas quem estão pagando a conta.

Entretanto, se estivéssemos falando de uma lista de 70 cantores para representar o Brasil, ou de 70 atores, ou de 70 atletas, a maioria saberia. As redes sociais estariam comentando, os telejornais estariam noticiando e as pessoas estariam debatendo.

Só que a lista de 70 autores para o grande público e a grande imprensa não gera o mesmo interesse. Em relação ao Brasil, existe o raciocínio de que a literatura é algo segregado, é algo para poucos, é um país de poucos leitores. E que ser escritor de livros é um hobby, não a primeira profissão de alguém para sobreviver.

Por aqui, a literatura teoricamente não é pop.

3 mil leitores


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(Registro do 1º Encontro de todos os leitores do Brasil)

É um consenso comum entre autores da dita “alta literatura” que esse é o número de leitores em média possível de ser atingido pelos romancistas brasileiros: três mil leitores.

De novo: três mil leitores.

Esse números e baseia na média de tiragem das editores em relação a tais autores. Raciocínios como esse, estereotipando o fracasso comercial literário como desculpa para bases mal construídas na formação e sedução de leitores frente a best sellers estrangeiros, são uma espécie de câncer que corrói e faz um mercado já restrito em seu pensamento consumir a si próprio, feito ratos se alimentando dos próprios filhotes.

Congressos são feitos para debater sobre o livro eletrônico, vendo-o mais como um problema, um inimigo a ser combatido, do que um aliado em potencial para uma revolução editorial, da qual as editoras não sabem lidar ou mesmo fazer parte.

Esse raciocínio é associado a outro muito comum, utilizado em parceira com o anterior.

“O jovem no Brasil não lê” / “O brasileiro não lê”

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Uma das revoluções do mercado editorial envolveu os blogs literários.

Cansados de ver a literatura que acham relevante para si sendo considerada irrelevante pela critica, os leitores passaram a considerar a critica irrelevante e criaram seus próprios meios de divulgação, resenhas e debates literários.

A maioria esmagadora desses blogs é comandada por jovens leitores ávidos, que se tornaram parceiros das editoras no desbravamento de um mercado que não conseguiu mais ignorá-los.

Há pouco tempo, esses blogs colocaram em 5º lugar no Twitter a hastag #euleiobrasil a favor da leitura de autores brasileiros. Esse feito não foi divulgado por nenhum grande veículo de comunicação.

Além disso, é possível afirmar que os mesmos retrógrados que acreditam não haver um grande público na literatura desse país mesmo compreendam o funcionamento do alcance digital de uma geração de leitores da qual eles jamais irão atingir.

É a mesma analogia do avô que se recusa a compreender a explicação do neto sobre o funcionamento de um mouse de PC, por considerá-la complicada ou diferente demais da maneira como as coisas eram no seu tempo. Nesse caso, é mais fácil acreditar que o jovem de hoje lê menos do que aprender como atrai-lo.

Para autores com mentalidade mais aberta, todavia, a compreensão de que nunca se leu tanto nesse país é algo fácil de ser percebido.

“Eles têm a força”

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(Estande interrompido da Leya BR durante autógrafos de Dragões de Éter na Bienal de SP 2012)

A frase acima foi a chamada de capa da Ilustrada na Folha de São Paulo, durante a Bienal de 2012, comigo e Carolina Munhóz. A capa de um primeiro sábado de Bienal dada a um casal de escritores jovens, representantes do segmento de literatura fantástica – hoje o mais popular do mundo – causou extrema surpresa no meio editorial.

Na matéria, o jornalista Márcio Aquiles desmembra o sucesso pouco comentado em mídias mais tradicionais de escritores da nova geração que vivem uma realidade tão distante do pensamento arcaico envolvendo a realidade dos escritores brasileiros, que ignorar suas influências parece ser a única maneira de ainda se agarrar a formações já destruídas.

A excelente coluna de Raquel Cozer no dia 14 de fevereiro comentou sobre o espanto recente causado por alguns autores no mercado literário. Na matéria publicada é levantado sobre como disputas por editoras, cheques de seis dígitos ou mais de uma dezena de exemplares vendidos são tratados como uma exceção a ser glorificada.

Esse destaque é compreensível, novamente retomando ao argumento da precariedade com que nosso mercado nacional se sustenta.

No entanto, fora do contexto existe uma lista de autores dos quais essas exceções já se tornaram elementos básicos de qualquer tipo de negociação contratual.

Thalita Rebouças, Paula Pimenta, André Vianco, Eduardo Spohr, Laurentino Gomes, Maurício de Sousa, Ziraldo, Augusto Cury, Jô Soares, Ana Beatriz Barbosa, Zibia Gasparetto, Nélson Motta, Leandro Narloch, Roberto Shinyashiki, Gustavo Cerbasi

Esses são só alguns exemplos de escritores cuja realidade descrita como “exceção” é uma via de regra. Editoras concorrentes fazendo propostas, filas de horas de autógrafos em feiras literárias, e-mails lotados com relatos de leitores. Mesmo um adiantamentos de seis dígitos não se torna a tal grupo algo tão surpreendente. Bem-vindo, com certeza, mas não surpreendente.

No próprio grupo Leya Brasil, hoje coordeno meu selo editorial Fantasy de literatura fantástica pela Casa da Palavra e já vimos Carolina Munhóz se sagrar a autora mais vendida do grupo em toda Bienal de SP 2012, atrás apenas do quinto livro de Crônicas de Gelo &  Fogo, de George R.R. Martin, assim como vimos mesmo a Random House Mondadori descobrir a série “Dragões de Éter” no Brasil por ela própria e adquirir seus direitos.

Sério, a impressão é que parecemos Fernão Capelo Gaivota gritando: “ei, olhem para cá, podemos voar” e, do outro lado, vendo gaivotas se recusando a olhar para cima e preferindo dizer: “não, não, uma gaivota de verdade deve manter os pés no chão”.

Por isso, a ausência de nomes como esses, ao lado de outros como Ariano Suassuna, Mário Prata, Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca, Dráuzio Varella, Ferreira Gullar, Arnaldo Jabor, Edney Silvestre e tantos outros que vêm à mente do leitor brasileiro porque fazem parte de um grupo que não vive do consumo de si próprio nem da dependência de vendas institucionais, mas realmente forma novos leitores diariamente, passa uma mensagem da maneira como o governo brasileiro ainda pretende que sua própria literatura deva ser vista pelo resto do mundo.

De novo: é compreensível a opção de diplomacia no lugar da opção revolucionária, em meio ao pensamento adotado. Apenas é válido dialogarmos sobre como a literatura brasileira poderia invadir o mundo de uma maneira igualmente incontestável, uma situação muito mais intensa e marcante do que iremos ver.

Uma maneira que já foi feita antes, através de um exemplo único, que, curiosamente, hoje não pôde mais ser ignorado.

Sociedade Alternativa

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Seguindo o raciocínio apresentado ao longo do texto, o nome de Paulo Coelho destoa na seleção de autores.

O que irei defender aqui deveria se tratar de algo óbvio, mas se precisamos retomar esse tema, provavelmente talvez não seja tão óbvio assim. A situação é: como leitor, você tem direito a amar, ignorar ou não apreciar qualquer livro do mago da nossa literatura, da mesma maneira como pode fazer isso com a minha obra, do poeta que vende o livro dele no sinal, ou com Machado de Assis.

É seu esse direito.

Conheço diversas pessoas, contudo, que já o criticaram sem nunca ter lido nada dele. O raciocínio nesse caso funciona da mesma maneira como o dos trolls de internet: se posicionar contra algo costuma agregar rapidamente mais aliados do que o oposto. É mais fácil na roda de bar criticar o vestido que a atriz estava usando na última cena de um grande filme, do que ressaltar os detalhes da atuação expressados na mesma cena em que ela se utilizou do tal vestido.

O curioso, entretanto, é que se a atriz de repente entrar naquele bar, o grupo irá acionar celulares para pedir uma foto e postar em redes sociais com legendas de orgulho.

A analogia funciona em nosso caso. Se você nunca visitou as livrarias europeias, você não faz ideia do que representa o nome Paulo Coelho ao redor do mundo. Enquanto os escritores brasileiros lutam para chegar nas mesas das livrarias do Brasil, ele está nas mesas de livrarias do mundo todo.

Diante do pensamento que ronda nosso mercado editorial, ele está em uma situação tão aparentemente inatingível, que mais uma vez é mais fácil tratá-lo como uma mutação bizarra editorial, o escritor mais sortudo do mundo, uma alma vendida ao diabo, ou qualquer explicação sobrenatural que se aproxime das mesmas tramas que os críticos se recusam a aceitar, do que vê-lo como um exemplo do que um autor brasileiro é capaz de conseguir.

De fato, ainda impressiona como o mercado editorial brasileiro a princípio irá tentar convencer a todo escritor iniciante de que Paulo Coelho é um exemplo a não ser seguido, como se fosse um caso que jamais será repetido ou se tratou de um transgressor de um setor que deveria se manter elitizado, jamais popular.

Um argumento que mais uma vez apenas canibaliza o potencial de seus próprios talentos.

De novo: Paulo Coelho destrancou uma porta de ferro da qual nenhum outro brasileiro teve coragem de tentar ultrapassar igualmente. Todo argumento contrário em relação a isso costuma unir em uma mesma sentença tópicos que não se opõem, como gosto literário pessoal e merecimento de feito profissional.

Porque você não precisa nem mesmo ser fã dos livros dele para compreender e respeitar o que esse autor já fez pelo Brasil ao redor do mundo. Ignorar isso seria transmutar “ignorar” em “ignorância”.

Na Feira de Frankfurt no ano passado o rosto de Coelho estava em tantos estandes de tantos idiomas diferentes, que é impossível não parar por um momento e pensar no tamanho do voo que ele alcançou.

Principalmente para um país que possui três mil leitores.

Concluindo

Não estou aqui afirmando que a ausência de todos os nomes citados ao longo do texto sejam um indício do pensamento arcaico que ainda ronda nossa literatura. Mas afirmo que  a falta de ao menos alguns deles, sim.

Nomes que continuarão lotando Bienais e festivais, formando leitores, depositando adiantamentos de vários dígitos, batendo dezenas de casas decimais de exemplares vendidos.  Uma parte da crítica continuará a considerar esse feito irrelevante ou ignorável, assim como a grande parte dos leitores continuará a utilizar seus próprios canais para se importar com o que consideram relevantes.

A revolução que tomou o mercado da música e do audiovisual se volta agora ao mercado de livros e, mais importante do que ver determinados setores se darem conta dela, é ver autores que possam liderá-la se preparando há tempos para isso, feito a formiga que trabalha, enquanto a cigarra canta.

Editoras grandes continuarão lançando um livro por dia e não há como todos estarem nas mesas e vitrines das livrarias. O livro físico jamais irá morrer, mas sua tiragem irá diminuir e ele irá dividir cada vez mais espaço com o livro eletrônico. O autor recluso, que não sabe lidar com entrevistas, apresentações em eventos e contato direto com leitores estará cada vez mais fadado ao esquecimento prematuro. A busca pelo próximo best seller continuará enlouquecendo editores em leilões cada vez mais acirrados e tomando boa parte dos recursos de suas editoras. E a proximidade entre autor e leitor jamais será a mesma depois da proximidade do mundo virtual.

O pensamento tradicional sobre o mercado brasileiro de livros antes era algo que apenas o impedia de crescer. Só que com a concorrência extrema, a fusão das grandes redes de livrarias, a velocidade e a mudança da relação da nova geração com a leitura, tal inflexibilidade, infelizmente, estará destinada a ver seu teto ruir sobre a cabeça de um mercado editorial já escasso.

A questão é: o mundo – e o mercado editorial desse mundo – não irá parar de mudar.

E quanto a isso, nós já aprendemos que só restam duas opções.

Evoluir ou morrer, xará.