Axel Branford

Axel Branford, de “Dragões de Éter”, pelo desenhista Éder Gil.

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Benefícios de Escritor

Uma das melhores coisas da profissão é receber as mensagens de leitores tão diferentes, na maioria das vezes relatando seus sentimentos ou mesmo dividindo um pouco de uma parte deles conosco. É o que nos relembra diariamente por que fazemos o que fazemos e por que amamos o que fazemos.
Esse e-mail abaixo é mais um de tantos exemplos, que no caso nem se trata de um leitor meu ainda, mas um ouvinte do cast do Cinema com Rapadura. Ele ouviu o relato que dividi no cast do Bruce Lee, sem dúvida o programa que mais me rendeu mensagens bonitas como essa.
http://cinemacomrapadura.com.br/rapaduracast-podcast/312541/rapaduracast-350-bruce-lee-a-historia-do-dragao-mestre-imortal/
Pedi permissão ao Cláudio para compartilhar a mensagem, que segue abaixo.
“Bom dia!
Antes de mais nada peço desculpas por escrever um e-mail cheio de erros de escrita, concordância gramatical, a um escritor. Pra mim é como convidar um italiano para almoçar e quebrar o spaguette ao meio antes de jogar na aguar fervente. Mas a desculpa de usar um teclado europeu funcionou até hoje, vou continuar usando. :^) Também nao posso dizer que sou um fã do universo fantastico, ainda não li nenhum livro seu, alias, você tem todos os motivos para parar de ler este e-mail agora.
Comecei a ouvir podcasts por causa do JovemNerd, que descobi no youtube e soh depois pelo nerdcast. Daih do jovem nerd para o rapaduracast é um pulo.
Ouço podcasts para pegar no sono e ontem ouvi o programa sobre o Bruce Lee (do qual também não sou fã incondicional, mas não dah para escapar da influência). No entanto este programa me fez perder horas de sono. O seu aparte contando a sua historia com seu pai veio como um soco no estomago, pela primeira vez chorei escutando um pod cast.
Eu moro na França a alguns anos. Vejo meus pais uma ou duas vezes por ano. E mesmo antes de morar por aqui jah era muito distante deles. Por varias razoes, a principal é o resultado combinação da minha natureza e do tipo de criação que eles me deram. O resultado é que se me colocar em uma sala com meu pai durante 5 horas, haverah no maximo 30 minutos de dialogo (acredite, jah fiz a experiência em uma viagem de carro mais curtas que 5 horas, mas a proporção horas faladas/silêncio constrangedor é a mesma).
O que me pegou em cheio mesmo no que você disse foi quando você sentou com seu pai na época em que vc foi contratado pela editora e explicou o que significava este feito. Mau pai jah me disse uma ou duas vezes: “Eu me realizo atraves de você, você é a continuação do que eu não pude fazer, você é meu orgulho”. Hoje eu tenho 32 anos e ha menos de 2 anos eu escrevi um “eu te amo” ao meu pai (espero poder falar antes que seja tarde).
Resumindo o email que deveria ser soh um “Oi, gostei do seu trabalho continue assim!”: Parabens pela “lucidez” de suas palavras, pelas conquistas profissionais e principalmente por ser capaz de ser alguem que pode dizer o que você disse no podcast em questão: “A ultima coisa que fiz e falei com ao meu pai foi dar um abraço e dizer obrigado por ter vindo”.
Claudio Brito”
Uma das melhores coisas da profissão é receber as mensagens de leitores tão diferentes, na maioria das vezes relatando seus sentimentos ou mesmo dividindo um pouco de uma parte deles conosco. É o que nos relembra diariamente por que fazemos o que fazemos e por que amamos o que fazemos.

Esse e-mail abaixo é mais um de tantos exemplos, que no caso nem se trata de um leitor meu ainda, mas um ouvinte do cast do Cinema com Rapadura. Ele ouviu o relato que dividi no cast do Bruce Lee, sem dúvida o programa que mais me rendeu mensagens bonitas como essa.

http://cinemacomrapadura.com.br/rapaduracast-podcast/312541/rapaduracast-350-bruce-lee-a-historia-do-dragao-mestre-imortal/

Pedi permissão ao Cláudio para compartilhar a mensagem, que segue abaixo.

“Bom dia!

Antes de mais nada peço desculpas por escrever um e-mail cheio de erros de escrita, concordância gramatical, a um escritor. Pra mim é como convidar um italiano para almoçar e quebrar o spaguette ao meio antes de jogar na aguar fervente. Mas a desculpa de usar um teclado europeu funcionou até hoje, vou continuar usando. :^) Também nao posso dizer que sou um fã do universo fantastico, ainda não li nenhum livro seu, alias, você tem todos os motivos para parar de ler este e-mail agora.

Comecei a ouvir podcasts por causa do JovemNerd, que descobi no youtube e soh depois pelo nerdcast. Daih do jovem nerd para o rapaduracast é um pulo.

Ouço podcasts para pegar no sono e ontem ouvi o programa sobre o Bruce Lee (do qual também não sou fã incondicional, mas não dah para escapar da influência). No entanto este programa me fez perder horas de sono. O seu aparte contando a sua historia com seu pai veio como um soco no estomago, pela primeira vez chorei escutando um pod cast.

Eu moro na França a alguns anos. Vejo meus pais uma ou duas vezes por ano. E mesmo antes de morar por aqui jah era muito distante deles. Por varias razoes, a principal é o resultado combinação da minha natureza e do tipo de criação que eles me deram. O resultado é que se me colocar em uma sala com meu pai durante 5 horas, haverah no maximo 30 minutos de dialogo (acredite, jah fiz a experiência em uma viagem de carro mais curtas que 5 horas, mas a proporção horas faladas/silêncio constrangedor é a mesma).

O que me pegou em cheio mesmo no que você disse foi quando você sentou com seu pai na época em que vc foi contratado pela editora e explicou o que significava este feito. Mau pai jah me disse uma ou duas vezes: “Eu me realizo atraves de você, você é a continuação do que eu não pude fazer, você é meu orgulho”. Hoje eu tenho 32 anos e ha menos de 2 anos eu escrevi um “eu te amo” ao meu pai (espero poder falar antes que seja tarde).

Resumindo o email que deveria ser soh um “Oi, gostei do seu trabalho continue assim!”: Parabens pela “lucidez” de suas palavras, pelas conquistas profissionais e principalmente por ser capaz de ser alguem que pode dizer o que você disse no podcast em questão: “A ultima coisa que fiz e falei com ao meu pai foi dar um abraço e dizer obrigado por ter vindo”.

Claudio Brito”

Pra quem escreve o autor local

Ontem sugeri pelo FaceBook que todo escritor que sonha com o mercado editorial deveria ler o texto da Luciana Villas-Boas no link:

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/02/1415721-para-quem-escreve-o-autor-local.shtml

Algumas pessoas me perguntaram depois o que eu achava sobre o trecho em que Luciana fala sobre o “mais do mesmo” produzido no Brasil e criticado pelos editores, assim como de quem eu achava que seria “a culpa” por não termos uma representação maior no exterior.

Respondi por lá, mas outras pessoas me convenceram a fazer um novo post ressaltando a opinião e coloco abaixo. Minha opinião é a seguinte:

Na verdade não existem “culpados”, essa é a questão. O problema é que cada setor busca um. A editora culpa o leitor. O leitor culpa o escritor. O escritor culpa a editora. Mas na verdade o mercado é o que é de acordo com o momento.

Além disso, lá fora 95% dos autores vendem o mesmo que 95% dos autores aqui: bem pouco. Eles também produzem mais do mesmo, não é uma questão nacional exclusiva, e um autor americano estourar nos EUA é tão difícil quanto um autor brasileiro estourar aqui. O que chega aqui já está em uma triagem feita lá fora antes. Só que quando um deles estoura lá, estoura muito, porque vende pro mundo inteiro depois e gera outras plataformas. A gente ainda não tem essa estrutura por aqui, mas é aquilo, se não surgirem escritores que entendam isso e ajudem a criá-la, vamos continuar sem ter.

Agora, é fácil apontar o dedo e dizer pra um editor que ele tem de fazer isso ou aquilo, quando na hora que se tem de sentar diante dos executivos e explicar porque tal livro não vendeu o que ele achava, ele tem de assumir a culpa sozinho. Na hora que um editor é demitido, ninguém vai com ele contar a notícia pra família. Quando um livro faz sucesso, a equipe recebe mérito. Quando um livro fracassa, o editor assume solitário a culpa.

Hoje a gente tem coisas que nenhuma geração teve antes. Um contato direto com o leitor e plataformas para mostrar os textos. As editoras procuram escritores profissionais, capazes de entender isso, não escritores que usam isso pra reclamar da vida e da falta de visão das editoras da qual eles querem fazer parte.

Quanto ao escritor, sou da opinião de que ele não tem de esconder suas referências, nem mudar isso ou aquilo para agradar esse ou aquele grupo, porque ele nunca vai agradar a todo mundo. O escritor tem de escrever o que o coração dele está pedindo. Ele não precisa mudar ou esconder suas referências por receio de críticas. Se o seu coração quer escrever uma história no sertão nordestino, faça. Se pede por uma história em uma estação espacial em Marte, faça. Se pede por uma história de um nordestino em uma estação espacial marciana, faça. É isso o que vai ser seu diferencial e, acredite, o editor e o leitor vão perceber o quanto você ama aquela história, o quanto você quer essa carreira e o quanto contar aquela história lhe faz feliz.

Só isso já ajuda a separar a sua história de uma pilha com milhares buscando a mesma chance. Seja aqui no Brasil.

Seja onde for.

“Fios de Prata” no Papiro Digital

Resenha sincera e completa sobre “Fios de Prata” de Nadja Moreno para o Escrev-Arte e para o Papiro Digital.

Links originais:

http://escrev-arte.blogspot.com.br/2014/02/resenha-fios-de-prata-raphael-draccon.html

http://papirodigital.com/literatura/livros/resenha-fios-de-prata-de-raphael-draccon/

Enjoy.

***

Este livro me causou um turbilhão de sensações. Certamente porque este substantivo o retrate muito bem. A princípio isso me incomodou bastante, mas a sequencia dele foi tão bem elaborada, inteligente e diferente que decidi que ele é sim um livro excelente e que merecia suas cinco estrelas, mesmo com algumas coisas que eu gostaria que tivessem sido escritas de outra forma.
A primeira coisa que me chamou atenção no livro, inicialmente de forma negativa, foi a miscelânea de linguagens. É redigido em terceira pessoa com um capítulo em primeira. Usa linguagem fluída e simples quando retrata o dia a dia dos jovens protagonistas, e uma rebuscada e mais complexa quando retrata o Sonhar, um outro plano onde nos encontramos quando dormimos. Eu já li livros assim e gostei muito. Neste me soou misturado demais, informação demais e não gostei. Não pareceu natural ou bem encaixado. Podia ter menos altos e baixos na linguagem. Do meio do livro para frente este mal estar se desfez e passou a ter mais coerência para mim estas mudanças.
A segunda coisa que me deu a sensação de turbilhão, de ‘demais’ foi a inserção de uma mistura de crenças, religiões, seitas, grupos, mitologia. Muita, muita informação. Alguns podem achar confuso. A ideia era juntar tudo numa coisa só, em uma centralidade onde tudo converge. Pensamento legal, mas que também só ficou mais harmonioso ao longo das páginas do meio para frente.
Os protagonistas – Mikael e Ariana são jovens atletas talentosos e famosos. Eu sinceramente não gostei muito de eles serem esportistas, não vi muita harmonia com o todo da estória que se desenrola ao longo de muitas páginas. Sei que vai ter quem vá me criticar, mas sinto como se fosse um nacionalismo forçado inserir os grandes personagens da estória como esportistas – jogador de futebol e ginasta. Não sei, sempre achei que o Brasil se destaca demais em uma infinidade de coisas muito bacanas para sempre centralizarmos nossos heróis nos esportes – pesquisa científica é uma delas (tá, parei, não falo mais disso, não é o objetivo da resenha). Pude ver de forma mais tranquila este aspecto e tirar meu mal jeito, quando o autor inseriu aspectos no final que, de certa forma, justificaram o porquê de Mikael ser atleta. Tá bom, ficou menos mal… Além disso o crescimento de Mikael no plano no Sonhar é tão forte e bem feito que eu o via como um moleque inconsequente, chato e sem conteúdo no começo, e terminei o livro vendo-o como um adulto responsável, forte, decidido e bom. Se fosse um filme, acho que seria difícil para o ator representar facetas tão diferentes de um personagem.
Tem outro aspecto que me chamou atenção. Fatos citados como consequências de situações acontecidas no plano do Sonhar. Algo lá refletia no plano físico e estes reflexos muitas vezes me soaram familiares, coisas que realmente vi acontecer. Achei uma jogada genial do autor. Já vimos autores que se destacaram no universo literário pela facilidade de misturar realidade e ficção de forma factível não é? Mas eu estranhei um detalhe. O espaço-tempo me pareceu destoado. Em vários pontos parecia que tudo que estava acontecendo no Sonhar era algo atual, dentro da mesma contagem de tempo do plano físico. Mas o autor cita fatos de muito tempo atrás, junto com fatos atuais – inclusive citando obras e autores ‘da moda’, como consequência das guerras no Sonhar. Eu me perdi sinceramente… Além disso nas passagens que citava as consequências no plano físico, a passagem terminava com uma frase do tipo: “E os assassinos, até hoje, caminham impunemente”. Mas não estava acontecendo naquele momento? Então a frase fica sem sentido. Bom, isso me deu um nó no cérebro. Gostei e não gostei ao mesmo tempo. Na mesma intensidade.
Outros pequenos pontos que me martelavam a mente enquanto lia: Os deuses se apelidavam constantemente em seus diálogos. Achei desnecessário, diante de um livro com tanta informação. Tinha hora que me perdia de quem falava com quem. E termos em caixa alta. Vários, o tempo todo. Não gostei. E os longos discursos ou diálogos sobre ‘o homem de hoje’. Não gosto destes rompantes de livro de autoajuda no meio da ficção e fantasia.
Aí você deve estar se perguntando: Nadja, então porque deu cinco para o livro, se tem tanta coisa que desgostou? Explico.
Draccon faz uma junção de fatos e acontecimentos não muito bem explicados ou entendidos, posturas que as pessoas assumem e que ninguém entende, e dá um significado. Junta vários planos além do físico e traça um caminho de ação e reação, de escolha e consequência que clareia os porquês. O autor insere na fantasia a justificativa para os sonhos, para a esperança, para o bem. E esta parte não soou apelativa ou forçada. Pareceu-me claro, verdadeiro, realmente plausível e justificável. Tudo é consequência. Simples assim. O que fazemos – ou deixamos de fazer – aqui, reflete nos outros planos e vice-versa.
“Capitão… – ele disse, focando no súdito – acaso sabes como calar a voz de um demônio em batalha?” O capitão talvez tenha sabido um dia. Mas não naquele. “Hoje não sei, majestade…” “Diga a ele: Eu sou a Esperança.”
Além disso tenho de tirar o chapéu para Draccon em passagens graciosas, como o fato de o fio de prata que nos mantém ligados quando estamos, sob uma perspectiva, em dois planos ao mesmo tempo, ser um frio traçado de trilhões de cordas… Ficou lindo de se imaginar.
Lindo também a ligação com Dimas. Se você não sabe de que Dimas estou falando, leia o livro… Vai concordar comigo que é uma referência bem bacana!
O autor cita várias vezes obras atuais, grandes autores e os insere muito bem na trama. Não parece um parágrafo à parte… É quase como que se eles fossem também de certa forma personagens da trama. Magnífica a cena da árvore dos escritores… Nem que seja para visualizá-las e nada mais, já vale a pena ler todas as suas 352 páginas.
Os diálogos são rápidos. Para mim, um dos pontos mais importantes. Odeio, odeio mesmo quando o autor insiste em explicar quem fala o que, sem deixar que o leitor entenda por si só. “Fulano disse:; Beltrano respondeu:; Aí virando-se Ciclano comenta:” Ahhh, cansa, irrita. Odeio diálogos engessados e os de Draccon, sem dúvida não o são. Altamente fluídos.
Fluído também fica o livro depois de um certo ponto, e, apesar de ter sequências longas de diálogos e cenas de guerra com riqueza de detalhes que pareciam excessivas, não dá para não ler. Queremos saber o que vem depois e depois e depois. Os cortes de cena entre os dois planos vão sendo feitos cada vez mais rápidos e cadenciados que a gente se sente viajando para lá e para cá com nossos fios. Havia tempo que não me sentia literalmente viajando nas páginas de um livro desta forma. Sentia na pele a transição de um lugar para o outro.
Existe romance? Sim. Ele está lá permeando tudo, mas sem ser, nem de longe, o mais importante. Mas ao mesmo tempo, o amor entre os dois é o que dá sentido a tudo. Tudo é por eles. Tudo acontece por eles… Ou por… Ah, bom… Melhor você ler para entender. Tem um lance do avatar lá no plano do Sonhar que foi a sacada bacana, genial e fofa no finalzinho do livro. (E nem adianta ir lá no final e ler, porque você não vai entender o contexto. Tem de ler o livro todo, ok?).
E existe guerra. Claro. Muita guerra, muitos seres fantasiosos medonhos! Muito bem explicados e apresentados pelo autor. Me lembrei de quando assistia os filmes de Freddy Krueger e tinha um certo receio em dormir. Draccon me causou, ao mesmo tempo, medo dos sonhos, e esperança que só se configura neles.
Recomendo a leitura. Calma, despretensiosa e apaixonada leitura.

Resenha | Fios de Prata, de Raphael Draccon

ÍndiceMikael Santiago realizou o sonho de milhares de garotos. Aos 22 anos era o jogador brasileiro com o passe mais caro da história do futebol. Mas à noite os sonhos o amedrontavam. Às vezes, o que está por trás de um simples sonho – ou pesadelo – é muito maior que um desejo inconsciente. Há séculos, Madelein, atual madrinha das nove filhas de Zeus, tornou-se senhora de um condado no Sonhar, responsável por estimular os sonhos despertos dos mortais. Uma jogada ambiciosa que acaba por iniciar uma guerra épica envolvendo os três deuses Morpheus, Phantasos e Phobetor, traz desordem a todo o planeta Terra e ameaça os fios de prata de mais de sete bilhões de sonhadores terrestres. Envolvido em meio a sonhos lúcidos e viagens astrais perigosas, a busca de Mikael pelo espírito da mulher amada, entretanto, torna-se peça fundamental em meio a uma guerra onírica. E coloca a prova sua promessa de ir até o inferno por sua amada.

Resenha

Este livro me causou um turbilhão de sensações. Certamente porque este substantivo o retrate muito bem. A princípio isso me incomodou bastante, mas a sequencia dele foi tão bem elaborada, inteligente e diferente que decidi que ele é sim um livro excelente e que merecia suas cinco estrelas, mesmo com algumas coisas que eu gostaria que tivessem sido escritas de outra forma.

A primeira coisa que me chamou atenção no livro, inicialmente de forma negativa, foi a miscelânea de linguagens. É redigido em terceira pessoa com um capítulo em primeira. Usa linguagem fluída e simples quando retrata o dia a dia dos jovens protagonistas, e uma rebuscada e mais complexa quando retrata o Sonhar, um outro plano onde nos encontramos quando dormimos. Eu já li livros assim e gostei muito. Neste me soou misturado demais, informação demais e não gostei. Não pareceu natural ou bem encaixado. Podia ter menos altos e baixos na linguagem. Do meio do livro para frente este mal estar se desfez e passou a ter mais coerência para mim estas mudanças.

A segunda coisa que me deu a sensação de turbilhão, de ‘demais’ foi a inserção de uma mistura de crenças, religiões, seitas, grupos, mitologia. Muita, muita informação. Alguns podem achar confuso. A ideia era juntar tudo numa coisa só, em uma centralidade onde tudo converge. Pensamento legal, mas que também só ficou mais harmonioso ao longo das páginas do meio para frente.

Os protagonistas – Mikael e Ariana são jovens atletas talentosos e famosos. Eu sinceramente não gostei muito de eles serem esportistas, não vi muita harmonia com o todo da estória que se desenrola ao longo de muitas páginas. Sei que vai ter quem vá me criticar, mas sinto como se fosse um nacionalismo forçado inserir os grandes personagens da estória como esportistas – jogador de futebol e ginasta. Não sei, sempre achei que o Brasil se destaca demais em uma infinidade de coisas muito bacanas para sempre centralizarmos nossos heróis nos esportes – pesquisa científica é uma delas (tá, parei, não falo mais disso, não é o objetivo da resenha). Pude ver de forma mais tranquila este aspecto e tirar meu mal jeito, quando o autor inseriu aspectos no final que, de certa forma, justificaram o porquê de Mikael ser atleta. Tá bom, ficou menos mal… Além disso o crescimento de Mikael no plano no Sonhar é tão forte e bem feito que eu o via como um moleque inconsequente, chato e sem conteúdo no começo, e terminei o livro vendo-o como um adulto responsável, forte, decidido e bom. Se fosse um filme, acho que seria difícil para o ator representar facetas tão diferentes de um personagem.

Tem outro aspecto que me chamou atenção. Fatos citados como consequências de situações acontecidas no plano do Sonhar. Algo lá refletia no plano físico e estes reflexos muitas vezes me soaram familiares, coisas que realmente vi acontecer. Achei uma jogada genial do autor. Já vimos autores que se destacaram no universo literário pela facilidade de misturar realidade e ficção de forma factível não é? Mas eu estranhei um detalhe. O espaço-tempo me pareceu destoado. Em vários pontos parecia que tudo que estava acontecendo no Sonhar era algo atual, dentro da mesma contagem de tempo do plano físico. Mas o autor cita fatos de muito tempo atrás, junto com fatos atuais – inclusive citando obras e autores ‘da moda’, como consequência das guerras no Sonhar. Eu me perdi sinceramente… Além disso nas passagens que citava as consequências no plano físico, a passagem terminava com uma frase do tipo: “E os assassinos, até hoje, caminham impunemente”. Mas não estava acontecendo naquele momento? Então a frase fica sem sentido. Bom, isso me deu um nó no cérebro. Gostei e não gostei ao mesmo tempo. Na mesma intensidade.

Outros pequenos pontos que me martelavam a mente enquanto lia: Os deuses se apelidavam constantemente em seus diálogos. Achei desnecessário, diante de um livro com tanta informação. Tinha hora que me perdia de quem falava com quem. E termos em caixa alta. Vários, o tempo todo. Não gostei. E os longos discursos ou diálogos sobre ‘o homem de hoje’. Não gosto destes rompantes de livro de autoajuda no meio da ficção e fantasia.

Aí você deve estar se perguntando: Nadja, então porque deu cinco para o livro, se tem tanta coisa que desgostou? Explico.

Draccon faz uma junção de fatos e acontecimentos não muito bem explicados ou entendidos, posturas que as pessoas assumem e que ninguém entende, e dá um significado. Junta vários planos além do físico e traça um caminho de ação e reação, de escolha e consequência que clareia os porquês. O autor insere na fantasia a justificativa para os sonhos, para a esperança, para o bem. E esta parte não soou apelativa ou forçada. Pareceu-me claro, verdadeiro, realmente plausível e justificável. Tudo é consequência. Simples assim. O que fazemos – ou deixamos de fazer – aqui, reflete nos outros planos e vice-versa.

“Capitão… – ele disse, focando no súdito – acaso sabes como calar a voz de um demônio em batalha?” O capitão talvez tenha sabido um dia. Mas não naquele. “Hoje não sei, majestade…” “Diga a ele: Eu sou a Esperança.”

Além disso tenho de tirar o chapéu para Draccon em passagens graciosas, como o fato de o fio de prata que nos mantém ligados quando estamos, sob uma perspectiva, em dois planos ao mesmo tempo, ser um frio traçado de trilhões de cordas… Ficou lindo de se imaginar.

Lindo também a ligação com Dimas. Se você não sabe de que Dimas estou falando, leia o livro… Vai concordar comigo que é uma referência bem bacana!

O autor cita várias vezes obras atuais, grandes autores e os insere muito bem na trama. Não parece um parágrafo à parte… É quase como que se eles fossem também de certa forma personagens da trama. Magnífica a cena da árvore dos escritores… Nem que seja para visualizá-las e nada mais, já vale a pena ler todas as suas 352 páginas.

Os diálogos são rápidos. Para mim, um dos pontos mais importantes. Odeio, odeio mesmo quando o autor insiste em explicar quem fala o que, sem deixar que o leitor entenda por si só. “Fulano disse:; Beltrano respondeu:; Aí virando-se Ciclano comenta:” Ahhh, cansa, irrita. Odeio diálogos engessados e os de Draccon, sem dúvida não o são. Altamente fluídos.

Fluído também fica o livro depois de um certo ponto, e, apesar de ter sequências longas de diálogos e cenas de guerra com riqueza de detalhes que pareciam excessivas, não dá para não ler. Queremos saber o que vem depois e depois e depois. Os cortes de cena entre os dois planos vão sendo feitos cada vez mais rápidos e cadenciados que a gente se sente viajando para lá e para cá com nossos fios. Havia tempo que não me sentia literalmente viajando nas páginas de um livro desta forma. Sentia na pele a transição de um lugar para o outro.

Existe romance? Sim. Ele está lá permeando tudo, mas sem ser, nem de longe, o mais importante. Mas ao mesmo tempo, o amor entre os dois é o que dá sentido a tudo. Tudo é por eles. Tudo acontece por eles… Ou por… Ah, bom… Melhor você ler para entender. Tem um lance do avatar lá no plano do Sonhar que foi a sacada bacana, genial e fofa no finalzinho do livro. (E nem adianta ir lá no final e ler, porque você não vai entender o contexto. Tem de ler o livro todo, ok?).

E existe guerra. Claro. Muita guerra, muitos seres fantasiosos medonhos! Muito bem explicados e apresentados pelo autor. Me lembrei de quando assistia os filmes de Freddy Krueger e tinha um certo receio em dormir. Draccon me causou, ao mesmo tempo, medo dos sonhos, e esperança que só se configura neles.

Recomendo a leitura. Calma, despretensiosa e apaixonada leitura.