Entrevista para o Escrivonauta

Entrevista cedida ao Escrivonauta, por Lydia Rodrigues.

Link original aqui.

Enjoy.

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Entrevista com Raphael Draccon

Posted: 8th August 2011 by Lydia Rodrigues in Entrevistas
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Raphael Draccon é autor da trilogia Dragões de Éter que já vendeu mais de 50 mil cópias no país. Ele também é roteirista e, recebeu uma menção honrosa da American Screenwriter Association (ASA) pelo seu primeiro roteiro de longa-metragem, o drama sobrenatural “In Your Hands”. Draccon fala das transformações na literatura , cinema e mercado editorial.

1-Na última Feira Nacional do Livro em Ribeirão Preto, você e a também escritora Carolina Munhóz, comentaram sobre o mercado editorial abordando dificuldades como a rejeição de trabalhos. Quais orientações daria para os jovens escritores, considerando essas dificuldades?

O mercado editorial hoje possui diferenças significativas em relação ao de alguns anos atrás. Por mais que ainda se trate de um processo estimado, a popularização da publicação por demanda hoje permite que qualquer candidato a autor profissional publique seu trabalho.

Há diversas armadilhas que o iniciante irá cair nesse processo, mas será a forma dele ganhar experiência. Todavia, publicar sob demanda não é a mesma coisa que publicar por uma editora comercial. O autor no caso se trata de um cliente, não de um parceiro profissional. Logo, não há a mesma preocupação com diagramação, capa, revisão, sinopse, preparação de texto. Não há uma estratégia de marketing nem uma exposição esperada.

Entretanto, se o escritor tomar a responsabilidade para si, ele terá em mãos uma forma de demonstrar o potencial de seu trabalho. Encaro a publicação por demanda como “o Youtube dos escritores”. A vantagem é que o trabalho pode chegar até as mãos de alguém que o revele ao grande público. A desvantagem é que, assim como no Youtube, passa a se bater a casa dos milhares buscando por ser essa próxima revelação.Se eu fosse um autor hoje, contudo, eu o faria, mas com a consciência de ter a total confiança no diferencial de um trabalho.

A questão é que todo mundo pode escrever um livro, mas contam-se nos dedos os que têm o suficiente para sobreviverem disso ou devolverem com lucros para a editora o investimento. É preciso mais do que apenas se contar uma boa história. É preciso saber vendê-la, saber dialogar com o público tanto escrevendo quanto palestrando, saber como se portar diante de seus leitores e do mercado editorial. É preciso algo que o diferencie de milhares buscando a mesma vaga.

2- Amanda Hocking é uma jovem escritora americana que resolveu publicar os livros dela pela loja virtual da Amazon. O que você acha dessa iniciativa de disponibilizar livros completos na internet por preços baixos?

É o futuro. O processo é como citado anteriormente: ele fará com que o novato possa demonstrar seu trabalho e ser revelado ao grande público, entretanto, a própria popularização do processo irá dificultar essa revelação. Serão milhares e milhares buscando por isso e tentando convencer aos outros. Todos querem ser o próximo “American Idol”, mas o tamanho das filas em cada cidade aumenta a cada ano. A questão ainda será: além de um livro a preço baixo, o que mais você oferece ao seu leitor?

Uma personalidade memorável, comentários originais, uma visão própria da vida, as palavras que alguém daquela geração precisa ouvir na alegria ou na tristeza; não importa. Se o escritor souber responder a isso, já estará à frente de milhares de outros, não importe o nível de evolução digital.

3- O fato de você ter cursado cinema na faculdade contribuiu de algum modo para seu desenvolvimento como escritor?

Influenciou na construção da estrutura das histórias. Antes de escrever um romance, faço uma escaleta com tópicos resumidos sobre todos os ponto importantes da narrativa, do início ao fim, exatamente como faria em um script de longa-metragem.

Dragões de Éter chega a ser dividido em núcleos de personagens, como aconteceria em um seriado de TV a cabo.

Os diálogos também costumam sofrer essa influência, com perguntas e respostas gerando beats, que são conflitos dentro do diálogo conhecido por roteiristas.

A linguagem de um romance é bem própria e diferenciada da linguagem audiovisual, mas como a minha geração é muito visual devido ao cinema e os seriados, o épico nos romances acaba tomando ares cinematográficos na mente dos leitores.

4-Como avalia as possibilidades de adaptações de obras da literatura fantástica nacional para o cinema?

Também será um caminho inevitável. Hoje não existem mais barreiras tecnológicas entre as produções nacionais ou internacionais; pode-se filmar em um lugar e gerar efeitos e edições em outros. O que diferencia as produções nacionais e internacionais é simplesmente a verba de cada uma.

As produções nacionais estão arriscando mais a cada ano. “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite” fizeram escola, “Besouro” e “Nosso Lar” demonstraram como é possível mesclar cinema nacional e equipe internacional.

A luta é pelo aperfeiçoamento de roteiristas, ainda a maior dificuldade do nosso cinema. O cinema argentino e mexicano, por exemplo, dão aula ao cinema brasileiro nesse sentido.

Em pouco tempo isso irá mudar, contudo. Quando o “Cidade de Deus” da literatura fantástica brasileiro for produzido, isso abrirá caminhos ainda não explorados. Vamos fazer o possível para tentar ajudar a ver isso acontecer.

5- Você se baseia em personagens de contos de fadas e histórias fantásticas tradicionais como de Chapeuzinho Vermelho e Robin Hood para criar alguns de seus personagens. Como consegue estabelecer um limite entre essas obras e seus livros?

É aquilo: eu acredito sempre que a obra é maior do que o artista, até porque ele morre e ela fica. Existe um caderno escrito de cabo a rabo, uma Bíblia de todo o universo de Dragões de Éter, comentando o papel da cada personagem, geografias e capitais, passado e futuro de cada acontecimento. Está tudo lá.

Logo, eu não acredito que Nova Ether tenha sido criada por mim, mas sim descoberta. Assim sendo, ao colocar os personagens lado a lado, eu não busco por uma conexão lógica; em minha cabeça na verdade eu tento entender a conexão que eu acredito já existir e apenas precise decodificar.Não sei se isso faz sentido de fora, mas não sei explicar de outra forma.

6- O site Subtítulo inaugurou uma coluna de perguntas relacionadas aos seus trabalhos chamada “Pergunte ao Draccon”. Como iniciativas assim essa podem incentivar escritores e leitores?

É aquilo: não tenho uma real pretensão de me achar apto a dar conselhos a alguém. O que tenho é a minha experiência, que me levou a um resultado. Quando iniciei o caminho, busquei pelos relatos e experiências de outros escritores que haviam conseguido um resultado que eu almejava igualmente. Aprendo até hoje com os que estão na minha frente.

Da mesma forma, vejo escritores iniciantes que buscam a mesma meta e querem saber se eu poderia acrescentar algo a eles. Por ter estado do outro lado e saber como é essa fase, eu tento orientar dentro do possível. Os pedidos sobre orientações são tantos que fiz vários posts sobre isso em minha coluna. O mais famoso deles, inclusive, fica nesse link:

http://www.sedentario.org/colunas/cavernas-e-dragoes/mercado-fantastico-ou-o-que-raphael-draccon-pode-lhe-dizer-que-outros-escritores-ja-nao-tenham-dito-21306

O Subtitulo é um blog bastante competente e que se tornou um selo editorial recentemente. É um blog acessado por muitos candidatos a escritores. E da mesma forma como eu gostaria de ter perguntado algumas coisas no meu inicio a outros autores publicados, acredito que muitos possam ter algumas dúvidas que espero contribuir na busca pela resposta.

7- No seu site pessoal  você apresenta um teaser de animação relacionado com seus livros. O que poderia comentar sobre esse diálogo entre literatura fantástica e animações? É viável essa parceria no contexto de produção brasileira audiovisual?

É um caminho mais viável do que o cinema a princípio, mesmo porque é possível gerar conteúdo para web e até mesmo aplicativos celulares de maneira mais concreta.

As editoras de comic books, por exemplo, perceberam o potencial dessas plataformas e dessa junção através dos nomeados “motion comics”, um meio termo entre HQ e animação. Editoras e autores geram book trailers cada vez mais próximos de curtas-metragens.

É como citado: a atual geração é muito visual e não separa exatamente as linguagens. O livro para ela é um elemento de plataforma para uma experiência, que se completa pela expansão em outras linguagens.

Escrevi sobre isso no meu texto mais lido até hoje. Até Paulo Coelho, que é um escritor cada vez mais adaptado e antenado com o pensamento e fixação por redes sociais dessa geração, concordou com o conteúdo do texto.

http://www.sedentario.org/colunas/cavernas-e-dragoes/lpb-ou-como-uma-nova-geracao-de-escritores-e-leitores-esta-revolucionando-o-mercado-editorial-32548

A maioria do que se discute em fóruns sobre o futuro da literatura já está em prática. A meta agora é descobrir as melhor forma de se adaptar a isso.

Foto : Laila Paschoal

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