Dennis Lehane
Dennis Lehane é o melhor escritor de thrillers policiais contemporâneos.
Eu fui conhecê-lo pessoalmente na FLIP de 2006, onde ele lá compareceu para uma mesa de debates comandada por Marçal Aquino, e que contava ainda com o romancista e roteirista mexicano Guilhermo Arriagua, autor dos filmes “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”.
O primeiro livro de Lehane que li foi “Gone, Baby, Gone”.
E eu não tinha como saber na época, mas já estava começando por sua obra-prima.
Já li esse livro duas vezes. E um dia sei que irei ler uma terceira.
É um fato: tudo na escrita de Lehane funciona. Os diálogos afiados, as metáforas irritantemente competentes, a ambientação de uma Boston particular que só quem viveu e cresceu no lugar poderia descrever,e, principalmente, os conflitos psicológicos que afetam seus personagens únicos.
Esse livro, ano passado, se tornou um filme nas mãos de… pasmem… Ben Afleck. E que ainda colocou seu irmão Casey Afleck no papel principal (não, não é só na televisão brasileira que existe neopotismo).
O próprio Lehane quando anunciou isso durante a Flip, disse, rapidamente e em bom humor, assim que anunciou o nome do diretor: “O filme será dirigido por Ben Afleck! Ei, calma, calma!”.
No Brasil, o filme saiu com o péssimo título: “Medo da Verdade”.
Entretanto, por incrível que pareça, o filme ficou bom!
Ben Afleck se mostrou um melhor diretor do que ator; o que também não era lá algo tão difícil de se mostrar.
Contudo, Casey Afleck – por melhor ator que seja – não tem nada a ver com o personagem Patrick de Lehane.
O próprio roteiro tem de fazer os personagens dizerem coisas como: “eu pensei que você fosse mais velho”, já que o visual “acabei de sair da adolescência” de Casey contrasta violentamente com o do experiente detetive particular.
Mas, como sempre, se você puder ter acesso ao livro, não veja o filme primeiro. Eu imploro isso a você.
Se você é fã de thillers e histórias policiais, leia esse livro.
Se você é fã de histórias, leia esse livro.
Se você não gosta de ler, leia esse livro.
Lehane tem a mania de fazer muito com pouco. Em frases curtas, utilizando metáforas explosivas, ele fala muito sobre a ambientação e o psicológico de cada personagem que aparece. A impressão que se tem é que seu texto foi lapidado para conter o mínimo possível o tempo inteiro, e dar seu máximo nessa encurtação.
O clímax a que Lehane leva os personagens principais de “Gone, Baby, Gone”envolve um dilema entre moral e ética tão poderoso, que até hoje tenho dificuldades de decidir qual personagem agiu corretamente, e qual agiu erradamente.
Porque, afinal, nenhum dos dois estaria errado. E há de se ter um controle narrativo esplêndido para se atingir um clímax em que um leitor se perturbe com tal decisão por tanto tempo.
De todas as suas obras, porém, a mais conhecida é “Sobre Meninos e Lobos” (Mystic River; 2003), devido ao explêndido filme de Clint Eastwood, realizado com um elenco dos sonhos.
A dica é a mesma: se puder, leia o livro. Mas se só puder ver o filme, a menos nesse caso ele é tão magnífico quanto.
E o próximo filme que será adaptado ao cinema de suas obras é “Shutter Island”, que fala sobre dois federais investigando um desaparecimento em um hospital psiquiátrico estranho, localizado em uma ilha; a tal Shutter Island.
O filme será dirigido pelo “desconhecido” Martin Scorsese, com Leonardo DiCaprio no papel principal.
Abaixo, segue o trailer com aquelas imagens que só Scorcese consegue em seus filmes policiais. Assistam em HD e com a tela inteira, por favor.
Fica a dica. Seja em imagens gravadas em película, seja em tinta impressa em páginas, acredite em mim, Dennis Lehane vale cada centavo…
Comentários
6 respostas to “Dennis Lehane”
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[...] Dennis Lehane – ótimo artigo sobre o autor e seus livros, no blog Dragões de Éter (de Raphael Draccon) [...]
Realmente! Sou fã inconteste desse escritor e confesso que perdi noites de sono por não CONSEGUIR parar a leitura no meio, principalmente com a série Kenzie – Genaro. Porém nada me foi mais gratificante, recentemente, do que a leitura de “Naquele Dia”. Lehane transcendeu!
Abç.
Meu namorado leu o sobre meninos e lobos e adorou. Gostaria de presenteá-lo com outro livro do autor. Qual me recomenda?
Abs
@RD – Gone, Baby, gone =)
O primeiro livro que li dele (pego na biblioteca do CCBB do RJ) foi Sobre Meninos e Lobos. Que livro, eu ainda não havia visto o filme, que é muito bom sim mas mesmo assim é metade do que o livro é.
O Gone Baby Gone ainda não li mas vi o filme que achei muito bom, porém minha noiva comentou vários furos do roteiro, que depois de pensar concordei com ela. Quero ler o livro para ver se há esses furos.
E agora estou terminando de ler Paciente 67. Como ultra-hiper fã de Scorsese, já havia visto o filme. O livro também é ótimo.
Sò um detalhe de um erro que muitos comentem Raphael: é “Scorsese” e não “Scorcese” como você escreveu.
Ah, só mais uma coisa, quando lia Sobre meninos…sempre imaginei o personagem de Whitey Powers como o ator Brian Dennehy, sempre achei a cara e o jeito dele. Pra mim ele deveria ter sido escolhido para o papel.
[...] do filme no IMDb – Medo da Verdade – crítica de Fábio Rockenbach no site Cinefilia – Dennis Lehane – ótimo artigo sobre o autor e seus livros, no blog Dragões de Éter (de Raphael [...]