Por Onde Se Esconde A Magia

 

Recentemente, a leitora Mirella me fez uma pergunta interessante na comunidade do “Dragões“. Achei que a pergunta e a resposta acabaram se tornando um texto agradável de ser dividido aqui no blog.

>> No começo do livro, você escreveu que “Tudo em Nova Ether parece concreto e maciço, e pode ser tocado e sentido, mas pode ser modificado e incorporar o incrível a qualquer momento”. O que você quis dizer com essa última frase? 

Tem várias interpretações essa frase, a maioria delas vai de como toca em cada um. Particularmente, posso dizer que se partimos do princípio de que falamos de um local formado de éter, nada deveria ser, portanto, tão concreto. Deveria ser efêmero. Entretanto, se os habitantes que lá existem são formados do mesmo elemento de quintessência, então o que seria efêmero para nós é concreto para eles, e pode ser tocado e sentido.E, em uma linha tão tênue entre o concreto e o efêmero, é possível que surjam unicórnios do éter; que dragões possam renascer e alçar vôo; que o tempo até mesmo pare por uma história de amor. Essa é uma forma de se incorporar o incrível a qualquer momento.  Para mim, particularmente, porém, essa frase tem outro significado. Não sei se vocês compartilham também dessa visão, mas eu vejo magia em mundos que não são tão efêmeros assim, como o nosso.

Um exemplo:

Outro dia, em um supermercado, havia uma senhora de muita idade, que sobrevive de catar latas naquele lugar. Nesse dia, ela estava sentada em um banco de madeira, ao meu lado. De lá, eu vi uma linda menininha, de não mais que 8 anos, passar de mãos dadas com a mãe, parar curiosa, notar a senhora sentada, e fazer questão da mãe levá-la até lá, somente para dizer à senhora que ela “era uma gracinha”.

Por último, ela deu um beijo no rosto da idosa, e se foi com a mãe.

Eu permaneci naquele banco, e fiquei com a expressão de deslumbre da humilde senhora. Uma expressão de quem não sabia onde esconder a emoção de ter sido notada (mesmo porque nenhum ser humano deveria esconder uma boa emoção), e de ter sido tratada de forma tão pura.

Uma expressão de êxtase; de sonho. Do toque em sentimentos manifestados pela vontade, e ilimitados pela fé.

Uma expressão de quem vive uma dura vida em um mundo concreto e maciço, onde tudo pode ser tocado e sentido. Mas que, entretanto, a qualquer momento pode ser modificado e incorporar o incrível.

Sem cartolas; sem coelhos; sem espelhos.

Apenas magia.

Apenas a pura magia.

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