Frankfurt 2013, ou Como o Mercado Editorial Irá Evoluir ou Morrer
2013.
Bem, o mundo não acabou e esse ano o Brasil é o país homenageado na Feira de Frankfurt, a mais importante do setor de literatura.
Para representar o país na feira, recentemente a Biblioteca Nacional divulgou uma lista com os nomes de 70 autores brasileiros escolhidos para representar o país, através de uma participação que no total contará com um investimento aproximado de R$ 20 milhões.
Você pode ver a lista dos 70 selecionados clicando aqui.
Se por um lado a lista incluiu alguns nomes que nos orgulham ver ali como Pedro Bandeira, Fernando Morais, Patrícia Melo, Lourenço Mutarelli, Paulo Lins, Maurício de Sousa e Ziraldo, por exemplo, por outro, obviamente, as escolhas causaram polêmica, assim como qualquer outra seleção o teria feito igualmente.
Alguns autores se pronunciaram de maneira a criticar suas próprias ausências dentre os selecionados e suas opiniões merecem ser ouvidas. Da minha parte, contudo, gostaria de hoje remar para uma outra margem e aproveitar a seleção divulgada para analisar algo mais a fundo.
Analisar o futuro do mercado editorial brasileiro e o que essa seleção demonstra o que podemos esperar dele.
Diplomacia x Revolução
Há duas formas de se encarar a Feira de Frankfurt: como um evento diplomático, como se faz atualmente, ou como um exemplo de uma possível revolução editorial brasileira. A escolha pela diplomacia, todavia, é justificável porque toda ação segue um pensamento, e o pensamento do setor brasileiro ainda engatinha perto do potencial da literatura já produzida hoje por aqui.
Esse pensamento conservador é construído sobre alguns pilares que precisamos desmembrar para compreender o que nos faz engatinhar nesse setor, no lugar de um voo livre.
Vemos reportagens comemorando a quantidade de autores mineiros na lista, bem como criticando a falta de mais autores índios, mulatos ou de determinada região. É o tipo de pensamento que parece de progressão, mas no mundo de hoje se aplica como regressão.
Porque no mundo de hoje os valores mudaram e ninguém mais se surpreende se um índio dentro de uma oca criar uma rede social para tribos indígenas reconhecerem seus ancestrais, por exemplo, e de repente ficar famoso e milionário por isso. O mundo conectado simplesmente globalizou o regional e uma ideia ou uma obra brilhante é mais importante do que a região ou de que tipo de pessoa a produziu.
Você vai evoluir ou morrer, xará!
A frase acima foi atribuída uma vez ao popular mutante Wolverine, do grupo X-Men. Independente do fator X que exista em cada um de nós, a frase poderia ser encaixada perfeitamente nos mercados que lidam com qualquer conteúdo artístico.
A questão é: o mundo mudou, a nova geração é diferente de qualquer outra e qualquer tipo de mercado precisa acompanhar suas mudanças.
O mp3 surgiu e as gravadoras que não evoluíram com ele quebraram. O torrent surgiu e as locadoras que não evoluíram com ele quebraram. O mercado editorial passa hoje por uma etapa parecida, e aqueles que não se adaptarem – e aqui falamos de autores, editoras, agentes e livrarias – irão quebrar igualmente.
Vamos trabalhar por outro raciocínio: quantas pessoas você conhece que sabem da divulgação da lista de autores citada? Independente do interesse delas por literatura, isso deveria ser de seus conhecimentos, afinal, são elas quem estão pagando a conta.
Entretanto, se estivéssemos falando de uma lista de 70 cantores para representar o Brasil, ou de 70 atores, ou de 70 atletas, a maioria saberia. As redes sociais estariam comentando, os telejornais estariam noticiando e as pessoas estariam debatendo.
Só que a lista de 70 autores para o grande público e a grande imprensa não gera o mesmo interesse. Em relação ao Brasil, existe o raciocínio de que a literatura é algo segregado, é algo para poucos, é um país de poucos leitores. E que ser escritor de livros é um hobby, não a primeira profissão de alguém para sobreviver.
Por aqui, a literatura teoricamente não é pop.
3 mil leitores
(Registro do 1º Encontro de todos os leitores do Brasil)
É um consenso comum entre autores da dita “alta literatura” que esse é o número de leitores em média possível de ser atingido pelos romancistas brasileiros: três mil leitores.
De novo: três mil leitores.
Esse números e baseia na média de tiragem das editores em relação a tais autores. Raciocínios como esse, estereotipando o fracasso comercial literário como desculpa para bases mal construídas na formação e sedução de leitores frente a best sellers estrangeiros, são uma espécie de câncer que corrói e faz um mercado já restrito em seu pensamento consumir a si próprio, feito ratos se alimentando dos próprios filhotes.
Congressos são feitos para debater sobre o livro eletrônico, vendo-o mais como um problema, um inimigo a ser combatido, do que um aliado em potencial para uma revolução editorial, da qual as editoras não sabem lidar ou mesmo fazer parte.
Esse raciocínio é associado a outro muito comum, utilizado em parceira com o anterior.
“O jovem no Brasil não lê” / “O brasileiro não lê”
Uma das revoluções do mercado editorial envolveu os blogs literários.
Cansados de ver a literatura que acham relevante para si sendo considerada irrelevante pela critica, os leitores passaram a considerar a critica irrelevante e criaram seus próprios meios de divulgação, resenhas e debates literários.
A maioria esmagadora desses blogs é comandada por jovens leitores ávidos, que se tornaram parceiros das editoras no desbravamento de um mercado que não conseguiu mais ignorá-los.
Há pouco tempo, esses blogs colocaram em 5º lugar no Twitter a hastag #euleiobrasil a favor da leitura de autores brasileiros. Esse feito não foi divulgado por nenhum grande veículo de comunicação.
Além disso, é possível afirmar que os mesmos retrógrados que acreditam não haver um grande público na literatura desse país mesmo compreendam o funcionamento do alcance digital de uma geração de leitores da qual eles jamais irão atingir.
É a mesma analogia do avô que se recusa a compreender a explicação do neto sobre o funcionamento de um mouse de PC, por considerá-la complicada ou diferente demais da maneira como as coisas eram no seu tempo. Nesse caso, é mais fácil acreditar que o jovem de hoje lê menos do que aprender como atrai-lo.
Para autores com mentalidade mais aberta, todavia, a compreensão de que nunca se leu tanto nesse país é algo fácil de ser percebido.
“Eles têm a força”
(Estande interrompido da Leya BR durante autógrafos de Dragões de Éter na Bienal de SP 2012)
A frase acima foi a chamada de capa da Ilustrada na Folha de São Paulo, durante a Bienal de 2012, comigo e Carolina Munhóz. A capa de um primeiro sábado de Bienal dada a um casal de escritores jovens, representantes do segmento de literatura fantástica – hoje o mais popular do mundo – causou extrema surpresa no meio editorial.
Na matéria, o jornalista Márcio Aquiles desmembra o sucesso pouco comentado em mídias mais tradicionais de escritores da nova geração que vivem uma realidade tão distante do pensamento arcaico envolvendo a realidade dos escritores brasileiros, que ignorar suas influências parece ser a única maneira de ainda se agarrar a formações já destruídas.
A excelente coluna de Raquel Cozer no dia 14 de fevereiro comentou sobre o espanto recente causado por alguns autores no mercado literário. Na matéria publicada é levantado sobre como disputas por editoras, cheques de seis dígitos ou mais de uma dezena de exemplares vendidos são tratados como uma exceção a ser glorificada.
Esse destaque é compreensível, novamente retomando ao argumento da precariedade com que nosso mercado nacional se sustenta.
No entanto, fora do contexto existe uma lista de autores dos quais essas exceções já se tornaram elementos básicos de qualquer tipo de negociação contratual.
Thalita Rebouças, Paula Pimenta, André Vianco, Eduardo Spohr, Laurentino Gomes, Maurício de Sousa, Ziraldo, Augusto Cury, Jô Soares, Ana Beatriz Barbosa, Zibia Gasparetto, Nélson Motta, Leandro Narloch, Roberto Shinyashiki, Gustavo Cerbasi…
Esses são só alguns exemplos de escritores cuja realidade descrita como “exceção” é uma via de regra. Editoras concorrentes fazendo propostas, filas de horas de autógrafos em feiras literárias, e-mails lotados com relatos de leitores. Mesmo um adiantamentos de seis dígitos não se torna a tal grupo algo tão surpreendente. Bem-vindo, com certeza, mas não surpreendente.
No próprio grupo Leya Brasil, hoje coordeno meu selo editorial Fantasy de literatura fantástica pela Casa da Palavra e já vimos Carolina Munhóz se sagrar a autora mais vendida do grupo em toda Bienal de SP 2012, atrás apenas do quinto livro de Crônicas de Gelo & Fogo, de George R.R. Martin, assim como vimos mesmo a Random House Mondadori descobrir a série “Dragões de Éter” no Brasil por ela própria e adquirir seus direitos.
Sério, a impressão é que parecemos Fernão Capelo Gaivota gritando: “ei, olhem para cá, podemos voar” e, do outro lado, vendo gaivotas se recusando a olhar para cima e preferindo dizer: “não, não, uma gaivota de verdade deve manter os pés no chão”.
Por isso, a ausência de nomes como esses, ao lado de outros como Ariano Suassuna, Mário Prata, Chico Buarque, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca, Dráuzio Varella, Ferreira Gullar, Arnaldo Jabor, Edney Silvestre e tantos outros que vêm à mente do leitor brasileiro porque fazem parte de um grupo que não vive do consumo de si próprio nem da dependência de vendas institucionais, mas realmente forma novos leitores diariamente, passa uma mensagem da maneira como o governo brasileiro ainda pretende que sua própria literatura deva ser vista pelo resto do mundo.
De novo: é compreensível a opção de diplomacia no lugar da opção revolucionária, em meio ao pensamento adotado. Apenas é válido dialogarmos sobre como a literatura brasileira poderia invadir o mundo de uma maneira igualmente incontestável, uma situação muito mais intensa e marcante do que iremos ver.
Uma maneira que já foi feita antes, através de um exemplo único, que, curiosamente, hoje não pôde mais ser ignorado.
Sociedade Alternativa
Seguindo o raciocínio apresentado ao longo do texto, o nome de Paulo Coelho destoa na seleção de autores.
O que irei defender aqui deveria se tratar de algo óbvio, mas se precisamos retomar esse tema, provavelmente talvez não seja tão óbvio assim. A situação é: como leitor, você tem direito a amar, ignorar ou não apreciar qualquer livro do mago da nossa literatura, da mesma maneira como pode fazer isso com a minha obra, do poeta que vende o livro dele no sinal, ou com Machado de Assis.
É seu esse direito.
Conheço diversas pessoas, contudo, que já o criticaram sem nunca ter lido nada dele. O raciocínio nesse caso funciona da mesma maneira como o dos trolls de internet: se posicionar contra algo costuma agregar rapidamente mais aliados do que o oposto. É mais fácil na roda de bar criticar o vestido que a atriz estava usando na última cena de um grande filme, do que ressaltar os detalhes da atuação expressados na mesma cena em que ela se utilizou do tal vestido.
O curioso, entretanto, é que se a atriz de repente entrar naquele bar, o grupo irá acionar celulares para pedir uma foto e postar em redes sociais com legendas de orgulho.
A analogia funciona em nosso caso. Se você nunca visitou as livrarias europeias, você não faz ideia do que representa o nome Paulo Coelho ao redor do mundo. Enquanto os escritores brasileiros lutam para chegar nas mesas das livrarias do Brasil, ele está nas mesas de livrarias do mundo todo.
Diante do pensamento que ronda nosso mercado editorial, ele está em uma situação tão aparentemente inatingível, que mais uma vez é mais fácil tratá-lo como uma mutação bizarra editorial, o escritor mais sortudo do mundo, uma alma vendida ao diabo, ou qualquer explicação sobrenatural que se aproxime das mesmas tramas que os críticos se recusam a aceitar, do que vê-lo como um exemplo do que um autor brasileiro é capaz de conseguir.
De fato, ainda impressiona como o mercado editorial brasileiro a princípio irá tentar convencer a todo escritor iniciante de que Paulo Coelho é um exemplo a não ser seguido, como se fosse um caso que jamais será repetido ou se tratou de um transgressor de um setor que deveria se manter elitizado, jamais popular.
Um argumento que mais uma vez apenas canibaliza o potencial de seus próprios talentos.
De novo: Paulo Coelho destrancou uma porta de ferro da qual nenhum outro brasileiro teve coragem de tentar ultrapassar igualmente. Todo argumento contrário em relação a isso costuma unir em uma mesma sentença tópicos que não se opõem, como gosto literário pessoal e merecimento de feito profissional.
Porque você não precisa nem mesmo ser fã dos livros dele para compreender e respeitar o que esse autor já fez pelo Brasil ao redor do mundo. Ignorar isso seria transmutar “ignorar” em “ignorância”.
Na Feira de Frankfurt no ano passado o rosto de Coelho estava em tantos estandes de tantos idiomas diferentes, que é impossível não parar por um momento e pensar no tamanho do voo que ele alcançou.
Principalmente para um país que possui três mil leitores.
Concluindo
Não estou aqui afirmando que a ausência de todos os nomes citados ao longo do texto sejam um indício do pensamento arcaico que ainda ronda nossa literatura. Mas afirmo que a falta de ao menos alguns deles, sim.
Nomes que continuarão lotando Bienais e festivais, formando leitores, depositando adiantamentos de vários dígitos, batendo dezenas de casas decimais de exemplares vendidos. Uma parte da crítica continuará a considerar esse feito irrelevante ou ignorável, assim como a grande parte dos leitores continuará a utilizar seus próprios canais para se importar com o que consideram relevantes.
A revolução que tomou o mercado da música e do audiovisual se volta agora ao mercado de livros e, mais importante do que ver determinados setores se darem conta dela, é ver autores que possam liderá-la se preparando há tempos para isso, feito a formiga que trabalha, enquanto a cigarra canta.
Editoras grandes continuarão lançando um livro por dia e não há como todos estarem nas mesas e vitrines das livrarias. O livro físico jamais irá morrer, mas sua tiragem irá diminuir e ele irá dividir cada vez mais espaço com o livro eletrônico. O autor recluso, que não sabe lidar com entrevistas, apresentações em eventos e contato direto com leitores estará cada vez mais fadado ao esquecimento prematuro. A busca pelo próximo best seller continuará enlouquecendo editores em leilões cada vez mais acirrados e tomando boa parte dos recursos de suas editoras. E a proximidade entre autor e leitor jamais será a mesma depois da proximidade do mundo virtual.
O pensamento tradicional sobre o mercado brasileiro de livros antes era algo que apenas o impedia de crescer. Só que com a concorrência extrema, a fusão das grandes redes de livrarias, a velocidade e a mudança da relação da nova geração com a leitura, tal inflexibilidade, infelizmente, estará destinada a ver seu teto ruir sobre a cabeça de um mercado editorial já escasso.
A questão é: o mundo – e o mercado editorial desse mundo – não irá parar de mudar.
E quanto a isso, nós já aprendemos que só restam duas opções.
Evoluir ou morrer, xará.
Comentários
45 respostas to “Frankfurt 2013, ou Como o Mercado Editorial Irá Evoluir ou Morrer”
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Pois é, Raphael, essa é a verdade. Muitas pessoas guiadas por essa mídia popular vai continuar pensando pequena da formação de leitores e escritores atuais,enquanto jovens e mais jovens vão ingressando seu ponto de vista através da vasta ferramenta que é a internet.
O importante é pensar que existem escritores transpassando os portões de ferro assim como Paulo Coelho e que ainda (espero), vamos ter muitos outros.
Raphael, creio que você disse algo que não é exclusivo do mercado editorial, mas que ocorre também no mercado fonográfico e audiovisual, que se trata exatamente da incapacidade desses setores se adaptarem a um tempo no qual a mediação mudou. A TV perde cada vez mais o poder que tinha para a internet, que como você bem enfatizou, torna, na prática, o local em global. A internet tem “um quê” de anárquica, e isso assusta os “tiranossauros” que estão no poder, em vários aspectos além do comentado (vide SOPA e ACTA, e outras tentativas de restringir a liberdade conquistada através da internet que, com certeza, virão). Em relação ao Paulo Coelho, acrescento o que certos “intelectualóides” dizem que “o brasileiro é burro” ou “não tem estudo”. Pergunto: O mundo inteiro é burro? Paulo Coelho é um fenômeno mundial, donde se conclui que o mundo está emburrecido então? Fiz faculdade de História, e senti bem isso entre os pares. Há essa ideia idiota de “alta” literatura e literatura desprezível. E esta é a que vende. Pergunto então qual é o objetivo de alguém desejar publicar um livro? Não é para comunicar uma mensagem? Para isso, é necessário vendê-lo, ora bolas. E seguindo o raciocínio, maior número de vendas, maior divulgação da mensagem. Bem, eles tem orgasmos quando falam que “esse livro não é pra qualquer um”, ou “boa literatura não vende”. O assunto é longo, mas acredito que com a força dos blogs, como você citou, podemos mudar essa realidade. Abraço.
Estava crente que você ou o Dudu seriam escolhidos, como amostras da nova safra de escritores. É realmente triste quando seu país e aqueles que detêm os direitos de escolha de representação aparentam ter vergonha do novo, do que existe fora da caixa.
Raphael, só uma dica: Maurício de Sousa (com s).
Abraço e sucesso!
@RD – Verdade, tinha passado um “z”.
[...] Continue lendo… [...]
Muito bom o texto! Acho que os autores novos tem mesmo que reinventar as formas de comunicação com o leitor como blogs, redes sociais e podcasts. Os exemplos do Spohr e do Caldeira retratam isso. A busca por nichos é cada vez mais intensa e estas ferramentas são as mais eficientes.
Em 1 palavra: Cultura. Ñ definitiva. Entende-se como quiser
Não me surpreendo em ficar encantada com um texto seu, Draccon. Já é rotina. Mas, neste você se superou! Muito bacana a sua defesa em prol da literatura nacional, e de extrema coerência. Cabe a nós, “reles” escritores brasileiros, a violência de enfiar o pé na porta, e mostrar por a+b que tem excelente literatura ficcional sendo criada do lado de cá do Equador.
Parabéns pelo texto, as considerações foram muito bem colocadas. É essencial se adaptar para sobreviver, com a indústria literária não seria diferente. Que muitos autores continuem passando pelos portões de ferro abertos por Paulo Coelho.
Woa… genial, Raphael! Tudo que nós, autores nacionais, queremos (e devemos!) falar e debater. O mercado só vai se atualizar e compreender o novo leitor quando seus profissionais se atualizarem. E isso já anda acontecendo – vide, até, o selo da Casa da Palavra com você no comando, por exemplo. Mas leva tempo e da trabalho, algo que tem feito com que o próprio leitor seja prejudicado.
Ainda existe muita ignorância sobre esse meio! Infelizmente.
Parabéns pelo texto e pela discussão =*
Raphael,
Devo confessar que ainda não li nenhum de seus livros, e o que conheço do seu trabalho vêm dos podcasts que escuto, sempre elogiosos, além de meus colegas que já são leitores de suas obras. Mas concordo com você, é muito estranho que muitos dos escritores que mais vendem no país ainda não sejam figuras recorrentes nas grandes mídias brasileiras, lembro que normalmente apenas autores de nicho como literatura infanto-juvenil ganham alguma destaque de vez em quando, ou a “aberração editorial”, como você citou, Paulo Coelho. Mas acredito que uma mudança está em curso, e realmente como você citou, Evoluir ou Morrer, xará.
Fica aqui mais uma coisa, primeira vez que vejo um autor de best seller citando um personagem em quadrinhos.
[...] tudo? Quer ler o texto na integra? Acesse aqui o blog do Autor e LEIA TUDO, pois é [...]
Lúcido e maduro. Gostei muito.
Como sempre, um grande (ótimo) texto, Draccon!
Toda essa situação arcaica e preconceituosa realmente está prestes a morrer… Grande parte dos leitores que lotam bienais continuarão a ser leitores daqui a 30 anos…
Com o tempo, acredito, tudo será mais igual… Não para sempre, é claro.
O mesmo acontece quando se diz, ainda hoje, que vídeo game não é arte… Isso já está mudando hoje, amanhã então!
Mas independente de TUDO, se houver público para consumir um produto, esse produto estará lá para ser consumido… E mesmo que esta não seja uma visão muito romântica, é uma visão verdadeira.
E é o que move o mundo.
Essa lista em Frankfurt será diferente em algum momento do futuro. Quanto a isso não há dúvida.
Raphael,
disseste muito bem! Sintetizou o que está entalado na garganta de tantos escritores e aspirantes!
Como dizia Nelson Rodrigues: ‘a crítica não consegue levar nenhuma bactéria ao teatro’.
E sinceramente, esses escritores da comitiva internacional, em sua maioria, não consegue levar nenhuma bactéria à livraria!
E isso!
Evoluir ou Morrer, xará! – O Carcaju!
Concordo com seus argumentos, mas a respeito dos “pensamentos arcaicos” sobre o motivo de outros nomes não estarem na lista também pode ser atribuída uma “mini-revolução” no mesmo quesito com a presença dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, quadrinistas de ótima qualidade vencedores do Eisner Awards (O ~Oscar dos quadrinhos~) por Day Tripper. Recomendo todas as obras dos dois
[...] Continue lendo… [...]
Sem dúvida alguma, um texto que deve ser lido por escritores, editores, blogueiros, críticos literários, etc.
Grande abraço, Raphael.
[...] Continue lendo… [...]
[...] Analisar o futuro do mercado editorial brasileiro e o que essa seleção demonstra o que podemos esperar dele. [via Raphael Draccon] [...]
Raphael, vejo em você e nos demais autores citados, a revolução da literatura no Brasil. Nomes como José de Alencar também foram muito subjugados na sua época e hoje, são considerados ícones da literatura brasileira. É claro que desejo que o reconhecimento a vocês seja feito o mais rápido possível mas de qualquer forma, uma revolução mesmo sendo reprimida, será conhecida como tal e sem dúvidas, trará alguma mudança!
Excelente texto! Desde que publiquei o meu primeiro livro penso muito sobre o conservadorismo do mercado literário brasileiro e o preconceito com autores novos! A Academia até pouco tempo tratava os livros de Thalita Rebouças com livro e não literatura! Eu acho isso tão errado que não agüentava ouvir as palestras de professores renomados…
Enfim, o público jovem gosta de ler, o que fala é incentivo por parte das editoras, dos autores e dos nossos governantes…
Eu acredito na evolução da literatura brasileira e também acho que deveriam acrescentar nomes de escritores que vem influenciando multidões a ler!
Beijos,
É, Raphael, difícil não concordar com você. O Brasil considera a literatura como atividade para poucos. Como mudar essa mentalidade? Com pesquisas feitas por mim para a realização de um artigo publicado num livro da escola, o método mais eficiente está em apostar E investir na próxima geração.
A maior influência literária dos jovens está nos professores e nos pais. Com grande parte da população nacional incapacitada até mesmo de escrever o próprio nome, não espera-se uma grande leva herdeiros da vontade de ler vinda dos pais. Se as escolas brasileiras deixassem de lado seu objetivo de ganhar renome formando alunos que passem nos vestibulares e tentasse formar cidadãos, uma das primeiras coisas a se fazer seria investir na formação de leitores, mostrando a literatura às crianças de jardim de infância e ensino fundamental.
Transformando a leitura num COSTUME desde a infância, o número de crianças que um dia poderiam se tornar leitores seria, no mínimo, cinco vezes maior do que acontece hoje em dia, chutando baixo.
Abraços,
Gabirú.
Incrível! Este é um texto digno de ser lido em cursos de graduação de Letras, principalmente os com ênfase no mercado editorial, muitas pessoas deveriam ter acesso a esta visão do mercado, que, por incrível que pareça, ainda é discriminada e repudiada por alguns. Gostei muito!
Parabéns.
Draccon, não a ver sobre o post mas: tem planos de vir a Teresina ao Piauí em alguma palestra/evento em alguma livraria?
Abraço
Raphael,
Entendo perfeitamente seu ponto de vista. E com ele concordo, em parte.
A literatura produzida em um país não deve espelhar unicamente a vertente ovacionada pela crítica, porque a crítica, na maioria das vezes, limita-se a apontar os nomes que formarão a panelinha da semana para um público que, se não é acadêmico, faz de tudo para parecer intelectual ao extremo. Tais críticos – e muitas vezes os leitores que vivem de sugar seu néctar – possuem postura arrogante de se crerem os mais preparados a opinar sobre a qualidade literária de um livro ou de hostilizar um escritor e sua obra sem lê-lo. (Abre-se um parêntese para denunciar um fato: certa feita, assisti a uma palestra de uma jornalista renomada; questionada por uma moça do auditório acerca da opinião dela sobre os rumos da literatura fantástica no país e no mundo, ela lhe sorriu ironicamente e respondeu: “sinto muito; não posso responder: não leio isso”).
Ocorre, entretanto, que a maioria dos leitores não dá a mínima para a crítica. E isso é bom porque esses leitores não se restringem ao mundinho que essa mesma crítica aponta como glorioso: vão atrás daqueles escritores que lhes cativam, das histórias que se fixam em suas ânsias de leitura, da paixão pelas personagens, adubada com carinho e curiosidade. Em suma, grande parte dos leitores dá uma banana para a crítica.
A lista de setenta autores reflete o que acontece no Brasil, mas também em muitos outros países do mundo: a farta tentativa de se parecer importante, sério, um ás da literatura, ou seja, o querer ser alta literatura. E, aí, tem que se dizer que não há espaço para a literatura fantástica, porque, como você mesmo mencionou, são autores que formam novos leitores, e esses, em geral, não são leitores com experiência em literatura. Isso implica dizer que, pela inexperiência ou por estarem começando na descoberta do mundo letrado, não se tratam do público que a “alta literatura” faz questão de atingir. Por outro lado, os termos “literatura fantástica” e “livro bestseller”, são encarados de maneira pejorativa. “Literatura autoajuda”, então, nem se mencione. Mas creio que já há um progresso visceral nessa listagem: aí se encontram autores de literatura juvenil/infantil e, ora veja, autores de quadrinhos.
Creio que as barreiras estão sendo quebradas e que a hora da literatura fantástica virá. Por um outro lado, também creio que você esteja generalizando sobremaneira a situação apontada, como se todos os autores de menor apelo público estivessem fadados ao fracasso, simplesmente por não estarem em redes sociais ou serem mais reclusos que palestrantes. Isso é uma tolice – ainda que seja óbvio o gosto do público leitor pelo escritor carismático – e há diversos casos de autores que aparecem eventualmente ou nunca aparecem e são queridos da mesma forma como vocês, por exemplo.
Apesar de tudo, ainda acho que, se de uma forma, a crítica literária é bairrista e preconceituosa, por outro lado a literatura fantástica nacional (mormente a bestseller) precisa amadurecer. Tudo é muito belo quando se trata de leitores que estão adquirindo suas primeiras experiências literárias. Venho de uma geração cujos primeiros livros perfaziam a saudosa coleção Vagalume. E é muito, mas muito bom saber que essa geração de pré-adolescentes, adolescentes e quiçá crianças têm possibilidades nacionais como você. Vejo jovens lendo seus livros com voracidade, bem como os livros do André Vianco, do Eduardo Spohr, da Carolina Munhoz, do Leonel Caldela, que é gente que está botando a boca no mundo, ou melhor, os livros na prateleira. Entretanto, se você quer atingir um público diferente e mais exigente, apontando, inclusive, para a parcela daqueles leitores que, embora não digam amém à crítica literária, observam-na com respeito, é preciso rever seus conceitos.
Digo isso porque beiro os trinta anos e ao ler sua trilogia Dragões de Éter, senti minha inteligência subestimada. Compreende o que eu quero dizer? Os adolescentes que se iniciam no delicioso vício da leitura podem acatar com reverência aos seus escritos, mas um leitor (geralmente) adulto e supostamente mais vivido nas narrativas mais cuidadosas não vai nunca notar (sem torcer o nariz) sua personagem gritando para um príncipe bonitão “lindo, tesão, bonito e gostosão” e achar que esse trecho possua o mesmo valor literário de um João Ubaldo Ribeiro, por exemplo.
Veja bem, não digo que a literatura fantástica não presta: você mesmo é um grande contador de histórias, o André Vianco também, mas há determinadas passagens e/ou construções verbais rasas, que acabam por limitar seu público. Eu, como amante da literatura fantástica, sinto falta de autores bestsellers nacionais com apelo ao público mais exigente, o que não se traduz, necessariamente, em histórias voltadas ao público adulto. Não é incomum notar que muitas obras que são pura literatura fantástica nunca serão colocadas nos escaninhos das livrarias junto ao setor de bestsellers fantásticos, simplesmente porque falam, com qualidade, a um público mais abrangente, seja ele consumidor de literatura especulativa ou mainstream: Robson Crusoé, As viagens de Gulliver, O médico e o monstro, Laranja mecânica, A pele de Onagro, só para citar alguns.
Percebe, Raphael? Eu sinto falta desse cuidado, que você não tem (ainda, espero). Entenda que há leitores que não engolem qualquer construção verbal, ou qualquer solução mais rasa e procuram, com frequência, obras fantásticas que demonstrem um maior apuro na forma e na essência. Veja, por exemplo, o caso de uma grande autora nacional que você talvez conheça e que publica no mesmo gênero que o seu (contos-de-fadas revisitados): Camila Fernandes, O Reino das Névoas, Tarja Editoral. Possui um estilo simples, que qualquer leitor iniciante consegue captar e agrada um público mais vivido em termos de literatura (mas, infelizmente, não possui o mesmo apelo comercial [por faltar divulgação?, não sei]).
Assim, concluo a minha opinião para dizer que, enquanto não se mostrar qualidade e seriedade para um público que abrange não só o juvenil, continuar-se-á sendo postergado o reconhecimento de uma literatura tupiniquim nacional de peso.
Não me entenda mal, sim? Essa é minha opinião; espero que um dia leia um romance seu e, ao terminá-lo, possa dizer: pô, esse vai pra cabeceira.
Um grande abraço.
Rui Medrado
@RD – Rui, você pode ter a opinião que quiser. Apenas em relação a “Dragões de Éter” seus argumentos já são repetições que se tornaram clichês críticos. Explico, o livro é formado por 3 núcleos: um adolescente, um adulto nobre, e um adulto plebeu. Curiosamente, sempre que alguém quer criticar a “riqueza” da obra, cita UMA frase do núcleo adolescente para justificar 3 livros de 500 páginas. Ninguém cita, por exemplo, o embate entre Robert de Locksley e Frei Tuck, em que um defende os ideais de Che Guevara e o outro de Gandhi, inclusive chocando frases das personalidades originais no embate de diálogos filosóficos.
Além disso, se você leu em um livro juvenil esperando ler João Ubaldo Ribeiro, o problema não está no livro juvenil nem no João Ubaldo Ribeiro.
Fica uma sugestão então: leia “Fios de Prata – Reconstruindo Sandman”. Aquele é um livro de literatura fantástica para adultos, com a proposta de uma linguagem de escrita plenamente adulta. Acredito que considerará sua inteligência de três décadas respeitada!
Olá, Raphael.
Fiquei realmente feliz ao ler seu texto, suas considerações são mesmo de se pensar. O quanto essa lista representa a literatura brasileira? E, mesmo com vários autores de peso ali, como se justifica a falta de divulgação de tais escolhas?
Realmente, a literatura não é pop, usando suas palavras; alguns mais conservadores e pseudo-intelectuais diriam que é melhor que se mantenha a literatura como diversão mais elitizada (sim, eu já ouvi esse absurdo!), porém eu creio que só perdemos como autores e leitores que somos.
Sempre fui leitora voraz, mas foi ao tornar-me autora que passei a entender os meandros existentes no mercado editorial e literário; muitas barreiras extremamente difíceis de se ultrapassar, mas que alguns corajosos e certeiros como ti, conseguem. Bravo! Tenho seu esforço, assim como o de Eduardo Spohr, de Carolina Munhoz e de André Vianco como força motriz para continuar.
Tenho orgulho de dizer que participei do movimento #EuLeioBrasil no twitter, e estou ajudando na organização dos eventos da Semana do Livro Nacional aqui em Curitiba. Ambos sem divulgação por veículos grandes de mídia, e continuamos ignorados. Difícil? Claro! Mas nem por isso deixa de ser recompensador quando percebemos que os interessados realmente estão interessados.
Concordo que temos mesmo que evoluir, e o mercado ligado aos blogs, e-books e podcast nos mostram isso. Não adianta ficar preso a um modelo que não dura para sempre. A gaivota deve voar, sim, e não se importar com a opinião alheia para isso.
Keep flying, “xará”, que nós vamos indo atrás. São pessoas como você que fazem a diferença!
Grande abraço da também escritora e fã,
Tâni Falabello
Na boa, apesar do texto incrível, que dispensa comentários, o que mais curti foi a resposta do Draccon ao Rui. kkkk
“Congressos são feitos para debater sobre o livro eletrônico, vendo-o mais como um problema, um inimigo a ser combatido, do que um aliado em potencial para uma revolução editorial, da qual as editoras não sabem lidar ou mesmo fazer parte.”
As editoras, cuja cara de pau faz com que cobrem 10, 15, 20 reais ou mais por uma obra digital, precisam mesmo ter medo do mercado. E vão quebrar sim. Revolução editorial, querendo chegar a muito mais gente, só baixando esses preços.
Adorei o texto! Mas, infelizmente, preciso concordar com o Rui. C.S.Lewis por exemplo escreveu “As Crônicas de Nárnia” para um público infanto juvenil e em nenhum momento o livro parece raso. Assim como o Paulo Coelho escreve muito bem para o público que ele pretende atingir. Ou seja, a questão não é o público e sim o qualidade empregada na escrita. E falo isso como uma grande fã de literatura fantástica que gostaria muito de ver os escritores brasileiros desse gênero no mesmo nível de escritores internacionais.
RD – C.S. Lewis é um caso dentre milhares e milhares e milhares de escritores internacionais. Assim como foram Shakespeare, Tolkien, Borges e tantos outros. É como ver Messi e Cristiano Ronaldo jogarem futebol e pensar em como seria bom ver os jogadores brasileiros jogando igual aos “internacionais”. Pautar sua expectativa de generalização tomando como base as exceções dos setores é já acumular uma frustração que lhe impedirá mesmo de reconhecê-la quando as encontrar por aqui.
A par disso, você tem todo direito de pensar o contrário, mas milhares de leitores brasileiros já enxergam em alguns escritores do gênero nacional a mesma qualidade que encontram hoje em escritores do atual mercado estrangeiro.
Belo texto Draccon!
Acho, realmente, que as editoras devem se adaptar. Hoje, conseguimos comprar e-books por um terço do preço do valor do exemplar físico (às vezes até menos que isso). Sim, muitas pessoas nunca trocaram o papel pelo digital, mas algumas se verão forçadas a isso por conta dos custos.
Também sei que a mídia empurra muita coisa, alienia totalmente aqueles que não tem vontade de procurar por mais. Falo isso como estudante de comunicação que um dia sonha em publicar algo, seja literatura acadêmica ou fantástica e que vê todos os dias jovens falando que a literatura importada é muito melhor do que a nacional ou que nosso país não possui “escritores bons o suficiente”.
Também faço parte de uma parte da população que é “mal vista” pelos “padrões” determinados e percebo que sim, nós, os alternativos somamos uma parcela imensa do público que consome e consagra escritores como você, Eduardo Spohr e Carolina Munhoz. Como você mesmo disse, não nos importamos com a crítica, nós fazemos nossa própria crítica. Criamos conteúdo inteligente que é total e completamente ignorado pela mídia e por pessoas como o palestrante que afirma que no Brasil só há 3 mil leitores.
Somos poucos sim, mas estamos nos unindo do jeito que podemos e, com um pouco de sorte, talvez consigamos mudar esse quadro
Deixando de lado a questão da qualidade – e me abstendo, pelo bom andamento da discussão, de dizer se concordo ou não -, acho que os autores de literatura fantásticas “deixados de fora” não teriam nada de novo para mostrar em Frankfurt. O que é que os alemães (e os demais europeus e os americanos) querem ler vindo do Brasil? Ora, obras que falem sobre e mostrem o Brasil. Que há de brasileiro em Dragões de Éter? Que há de brasileiro numa história de fadas que se passa na Inglaterra (e que, aliás, nada tem também de genuinamente britânica)? Não se trata de dizer se são obras boas ou não, mas são trabalhos que se perdem em sua própria universalidade e perdem aquilo que poderia ser seu trunfo: o encanto local.
RD – “Ora”, nesse caso, então por que a comitiva incluiu o nome de Paulo Coelho, que não passa em seus livros o “encanto local brasileiro”, mas é idolatrado em Frankfurt pelos alemães (e os demais europeus e os americanos)? Porque não importa o cenário em que um escritor escreva, importa a visão, o olhar dele sobre aquela história.
Um artista não perde o olhar de sua cultura pelo cenário em que produz sua obra. Woody Allen não deixou de ser Woody Allen porque filmou em Barcelona ou Paris, em vez de Nova Iorque. “A Batalha do Apocalipse” está publicada em alemão, “Dragões de Éter” está em espanhol, e “O Inverno das fadas” em breve poderá anunciar oficialmente sua primeira publicação estrangeira. Qual o sentido disso, se “os alemães”, e os “demais europeus”, e até “os americanos” querem ler isso ou aquilo específico do Brasil? Aliás, definir o que um outro povo quer ler no mundo globalizado de hoje seria manter uma tapa de cavalo que nos impediria de olhar os arredores, na ânsia por acreditar que um trabalho “se perde” na universalidade.
A par disso, o texto se propõe a analisar o mercado editorial com base em pensamentos arcaicos que rondam esse setor, não a lamentar minha ausência específica na lista em questão. Com base em seus argumentos, não entendo, aliás, por que não os utilizou com escritores que aí sim o texto lamenta a ausência, como Ariano Suassuna, Mário Prata, Chico Buarque ou Rubem Fonseca. Eles nos fariam felizes por lá, afinal, possuem o mesmo papel de autores da literatura fantástica hoje: formar leitores todos dias e movimentar um mercado editorial saturado.
Resumir suas críticas especificamente a mim ou à Carolina Munhóz não apenas foge da ideia mais ampla proposta no texto, como apenas reduz ou equivale, consciente ou inconscientemente, os argumentos a quase meros ataques pessoais.
Raphael, sobre o comentário dos 3.000 leitores, acho que o palestrante se referia ao público específico daquele nicho da literatura, que sempre foi marcada por baixo apelo comercial e alto valor artístico. Nesse caso, acho que a “mãozinha” do governo se justifica sim, pois esses autores não alcançam as mesmas cifras que vocês e não conseguiriam subsistir sozinhos. O que me deixa intrigado é a posição das grandes casas editoriais em relação à isso… já passou da hora da LeYa montar sua própria comitiva e botar a cara a tapa, bora cobrar dos patrões ehehe
““A Batalha do Apocalipse” está publicada em alemão, “Dragões de Éter” está em espanhol, e “O Inverno das fadas” em breve poderá anunciar oficialmente sua primeira publicação estrangeira. Qual o sentido disso, se “os alemães”, e os “demais europeus”, e até “os americanos” querem ler isso ou aquilo específico do Brasil?”
Olha, qualidade é diferente ao uso da propaganda. Se as editoras de lá quiserem publicar os livros de qualquer país que dera certo, não quer dizer que seja de qualidade. (vide Crepúsculo, o poder da mídia pode tudo. E da obra Eragon, péssimo enredo).
As editoras apostam acreditando que possa dar certo. É um tiro no escuro, e elas só fazem isso não por que o público de seu país gostam, é porque elas querem fazê-los gostarem. Essa é a diferença. Marketing eficaz, até mesmo livros péssimos podem vir a ser um bestseller (taí o motivo de muitos terem preconceitos com isso.
Responda-me, por favor, se estou realmente certa.
Muito obrigada.
RD – Sue, é bem simples: se isso o que afirma fosse verdade e bastasse apenas marketing para um livro dar certo, nenhuma grande editora teria encalhe.
Paulo Coelho chegou a um patamar inédito na literatura brasileira? Desculpe, mas Jorge Amado tem um destaque impressionante lá fora antes e depois de sua morte.
E sobre os tais autores reclusos, acho que eles não estão muito a vontade dentro dessa indústria cultural tão sublimada no seu texto. Trevisan ganhou o Camões, Coetzee, o Nobel.
RD – É preciso ter cuidado para não cairmos em um nacionalismo exacerbado aqui. Repare: não estamos comparando qualidade de obras de Amado e Coelho, estamos falando de patamares de fama. E se falarmos de fama, Jorge Amado lá fora atingiu seu patamar, com certeza, mas bem inferior ao de Paulo Coelho, que é conhecido em qualquer lugar do mundo, até mesmo por não-leitores.
E sobre Trevisan e Coetzee, você está certo, eles não se sentem à vontade, e o texto não os critica por isso, nem nega suas importâncias, apenas comenta sobre como o mercado editorial para se sustentar hoje precisa ir além disso, principalmente na sedução e formação de novos leitores.
[...] Link: http://www.raphaeldraccon.com/blog/?p=4176 [...]
[...] [...]
Belo texto. Parabéns.
Eu acho que a literatura Fantástica, que está em alta no país, tem que ter sua representatividade na feira. Mas nossa literatura não pode ser pautada pelo mercado. Creio que as pessoas que vão na feira querem ver o brasil representando nela.
A literatura fantástica não é um gênero genuinamente brasileiro (atualmente deve ser um gênero mundial). Estamos começando a assimilar, comprar, entender e produzir esse modo de contar histórias.
Ao contrário do que se falam das nossas universidades, principalmente as federais, elas não são contra o Paulo Coelho. O que elas fazem é mostrar da onde o ele bebeu para fazer o seus textos. E concordo que tem que ser assim.
E um pouco chato ter que ler poesias parnasianas mas elas nos ensinam muito. Exigem muito dos leitores e tem o seu valor.
A literatura Russa, Inglesa, Americana será por muito tempo ou para sempre reconhecida pelas obras que marcaram suas identidades.
Fazendo um paralelo com o cinema, fica bem claro quando falamos de Cinema Iraniano, Cinema Suéco, Cinema Americano que são escolas diferentes, que tem suas características.
Uma homenagem ao literatura brasileira, a meu ver, não é uma premiação ao mercado brasileiro, e sim uma escola. Onde eu considero que a literatura fantástica AINDA não é tão marcante, independente dos números.
“RD – Sue, é bem simples: se isso o que afirma fosse verdade e bastasse apenas marketing para um livro dar certo, nenhuma grande editora teria encalhe.”
É pra rir. Veja a obra chamada “The Cuckoo ‘ s Calling”. Nunca deu certo. História muito boa, mas só necessitou o (mero) marketing para o livro se sobressair em tão pouco tempo, se tornando o best sellers do momento.
Agora veja a obra Morte Súbita dela. Horrível a sua trama. Então, como isso é possível? Marketing, e de bons precedentes.
Tudo muito errado isso tudo. Não há resposta para o óbvio!
RD – Carlos, o único exemplo que você tem pra dar é o livro que se descobriu escrito por… J.K. Rowling? Ok, e as outras centenas de livros em que são investidos milhares em campanhas e não dão certo? Ah, você nunca ouviu falar? Não chegaram ao Brasil? De fato você não faz ideia de quantos livros são lançados por dia ao redor do mundo. Nisso você tem razão: é pra rir…
Da mesma forma que não se pode desfritar um ovo, não se pode parar a literatura fantástica. Isso por um motivo muito simples, ela é divertida. A literatura fantástica é entretenimento.
Os que habitam a “alta literatura” acreditam que os livros não têm a função de divertir e sim de provocar uma reflexão reflexiva refletora no leitor.
Quantos não são os livros que são considerados clássicos e representativos da cultura brasileira que a maioria das pessoas acha, com o perdão da palavra, “um porre de saquê com diesel”?.
Diferente da literatura considerada “séria” a literatura fantástica só é limitada pela imaginação de quem escreve, ao contrário da literatura “séria” que é limitada pela censura prévia dos pares.
A literatura fantástica no Brasil está engatando a terceira marcha e em breve já passará para a quarta.
A outra literatura, considerada aquela que realmente conta, não consegue sair da primeira marcha.
Com ou sem convite para FRANKFURT, a literatura fantástica no Brasil só tem motivos para festejar ; pois a cada ano sua representatividade só faz aumentar.
Olha Draccon, quando ouvi um podcast em que você participou e deu seu parecer sobre como a sua literatura servia como porta de entrada para o meio literário e a forma como você articulou tudo isto me fizeram ver que é uma pessoa inteligente. O mesmo tipo de pessoa que eu nunca esperaria, de verdade, que escreveria um texto panfletário deste teor.
Como igualmente sei que é uma pessoa ponderada, até mesmo sinto um certo receio de ler algumas de suas respostas, porque me parece o tempo todo que é necessário se justificar em muitos aspectos para que seu ponto de vista seja entendido: de verdade, não esperava isto.
Eu concordo quando se fala na visão como quem trabalha com a literatura comercial, vulgo produto cultural: ele precisa ser para passar o tempo. Não existem grandes preocupações existenciais, não há nada além da narração de uma história. Se o leitor se contenta com isto, sem problemas. É o mesmo que esperar que um fã de Mc Catra um dia absorva as nuances da música concreta e entenda o que é o sistema atonal de composição.
Por outro lado, desvalorizar quem está na lista é de uma insensatez tremenda. Vejamos, o que boa parte da literatura fantástica nacional tem contribuído para poder ser chamada de uma literatura fantástica nacional? Por mais que eu não seja afeito do André Vianco, ele dá uma cara maior de Brasil ao que escreve do que o Dragões do Éter, por exemplo. E nem por isto me sinto confortável aqui para avaliá-las, uma vez que este é o teu espaço e não está em questão se é bom ou ruim ou se merece ser um cânone. Mas todos os autores que o senhor Paulo Coelho tentou colocar ali foram, sem dúvidas, autores que produzem bons produtos e que vendem muito. E só.
Não que haja problemas nisto. Há problemas em se imaginar que estes autores são os grandes representantes de uma nova geração de escritores brasileiros que são comprometidos com algo além de criar uma história. Shakespeare, por exemplo, escreve o Mercador de Veneza situado na Itália, mas ali você nota muito do estilo inglês de fazer teatro e compreende o papel político que a obra possui. Da mesma forma que O Perfume se passa na França, mas tem muito dos traços da literatura alemã, sobretudo pelos seus excessos de sentimentalismo.
Então, dentro da literatura nacional, temos nomes muito fortes como o do Marcelino Freire, que por si só dispensa comentários, sobretudo pelas incorporações da linguagem cotidiana, a crítica mordaz ao nosso sistema político, etc. Veronica Stigger, Ziraldo, Ruffato, Tezza, todos eles são nomes que trazem marcas do nosso estilo de narrar histórias, num gesto antropofágico de devorar e devolver o que vem de fora. Coisa que não vejo em boa parte da nossa literatura fantástica, infelizmente.
E temos nomes que fazem da nossa literatura fantástica algo além de aventuras em mundos mágicos. Um deles se chama Roberto de Sousa Causo, uma pessoa importante dentro do ramo do horror e da fantasia, que começou neste meio quando não tinha ninguém disposto a ir por estas paragens, além de também ser escritor de ficção científica. Outro, infelizmente falecido, é o Victor Giudice, que inclusive se aventura num estilo mais moderno de fantástico, calcado no Borges.
A impressão que eu tenho quando leio as suas respostas é a de que nunca ninguém quis se aventurar pela literatura fantástica nacional antes dos novos escritores, na qual você está incluso. Concordo com o valor de tudo que se é produzido como iniciador de leitores, ainda mais quando estes precisam primeiro de um hábito de leitura e, quem sabe, ir depois para a “alta” literatura, termo que eu considero horroroso. Se a sua literatura, a do Spohr, a da sua esposa e de outros tem algum valor, certamente não deve ser colocada como baixa. E eu, como professor, nunca diria para não ler seus livros: eu digo para lerem e até mesmo serem críticos com relação ao que leram, dizendo porque gostaram do livro, independente de eu gostar ou não.
Antes que eu me esqueça, também preciso agradecer a ti, por ter dado ao meu irmão num evento de RPG o seu livro “Dragões do Éter” e ainda autografado. Não que eu nunca compraria um livro seu (acredite, eu até gosto da história do Dragões do Éter, mas guardo para mim a minha análise), mas este também é um gesto que considero nobre. Espero que não leve a mal este comentário e agradeço imensamente a paciência de ler até o final.
RD – Grande Fábio, um texto não é planfetário só porque você discorda dele. Eu tenho direito a ter minha opinião, como você a ter a sua. E o texto não é contra esse ou aquele autor, ele é a favor de ao menos um representante da literatura fantástica, assim como de diversos outros escritores que movimentam nosso mercado editorial. Abraços!
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