Pra quem escreve o autor local
Ontem sugeri pelo FaceBook que todo escritor que sonha com o mercado editorial deveria ler o texto da Luciana Villas-Boas no link:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/02/1415721-para-quem-escreve-o-autor-local.shtml
Algumas pessoas me perguntaram depois o que eu achava sobre o trecho em que Luciana fala sobre o “mais do mesmo” produzido no Brasil e criticado pelos editores, assim como de quem eu achava que seria “a culpa” por não termos uma representação maior no exterior.
Respondi por lá, mas outras pessoas me convenceram a fazer um novo post ressaltando a opinião e coloco abaixo. Minha opinião é a seguinte:
Na verdade não existem “culpados”, essa é a questão. O problema é que cada setor busca um. A editora culpa o leitor. O leitor culpa o escritor. O escritor culpa a editora. Mas na verdade o mercado é o que é de acordo com o momento.
Além disso, lá fora 95% dos autores vendem o mesmo que 95% dos autores aqui: bem pouco. Eles também produzem mais do mesmo, não é uma questão nacional exclusiva, e um autor americano estourar nos EUA é tão difícil quanto um autor brasileiro estourar aqui. O que chega aqui já está em uma triagem feita lá fora antes. Só que quando um deles estoura lá, estoura muito, porque vende pro mundo inteiro depois e gera outras plataformas. A gente ainda não tem essa estrutura por aqui, mas é aquilo, se não surgirem escritores que entendam isso e ajudem a criá-la, vamos continuar sem ter.
Agora, é fácil apontar o dedo e dizer pra um editor que ele tem de fazer isso ou aquilo, quando na hora que se tem de sentar diante dos executivos e explicar porque tal livro não vendeu o que ele achava, ele tem de assumir a culpa sozinho. Na hora que um editor é demitido, ninguém vai com ele contar a notícia pra família. Quando um livro faz sucesso, a equipe recebe mérito. Quando um livro fracassa, o editor assume solitário a culpa.
Hoje a gente tem coisas que nenhuma geração teve antes. Um contato direto com o leitor e plataformas para mostrar os textos. As editoras procuram escritores profissionais, capazes de entender isso, não escritores que usam isso pra reclamar da vida e da falta de visão das editoras da qual eles querem fazer parte.
Quanto ao escritor, sou da opinião de que ele não tem de esconder suas referências, nem mudar isso ou aquilo para agradar esse ou aquele grupo, porque ele nunca vai agradar a todo mundo. O escritor tem de escrever o que o coração dele está pedindo. Ele não precisa mudar ou esconder suas referências por receio de críticas. Se o seu coração quer escrever uma história no sertão nordestino, faça. Se pede por uma história em uma estação espacial em Marte, faça. Se pede por uma história de um nordestino em uma estação espacial marciana, faça. É isso o que vai ser seu diferencial e, acredite, o editor e o leitor vão perceber o quanto você ama aquela história, o quanto você quer essa carreira e o quanto contar aquela história lhe faz feliz.
Só isso já ajuda a separar a sua história de uma pilha com milhares buscando a mesma chance. Seja aqui no Brasil.
Seja onde for.
Comentários
uma resposta to “Pra quem escreve o autor local”
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Adorei sua opinião e para mim foi um bálsamo!!!
Os últimos parágrafos me confortaram…
Nunca escrevi nada em minha vida e a todo minuto
fico em dúvida…se está certo…se alguém leu…
gostou…Mas é o coração que me empurra para frente do computador!!! Um grande abraço!!! Obrigada!!!
Inez Justo